Corte
de R$ 600 para R$ 300 do benefício pago durante a pandemia terá impacto no quarto
trimestre, segundo avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio. Cenário
tende a se complicar com o desemprego. Taxa de desocupação deve chegar a 16%
O
consumo das famílias será um dos motores do Produto Interno Bruto (PIB) no
terceiro trimestre, mas servirá como freio para a desaceleração do PIB do
quarto trimestre, conforme as previsões do mercado. Analistas ouvidos pelo
Correio reconhecem que o impacto da redução do auxílio emergencial de R$ 600
para R$ 300 a partir de setembro será observado no último quarto trimestre do
ano.
Fernando
Honorato, economista-chefe do Bradesco, reconhece que o ritmo vai perder força
no quarto trimestre porque haverá uma desaceleração na atividade, devendo
continuar com taxas modestas nos anos seguintes, especialmente, devido à
retração do consumo das famílias. “Está ocorrendo uma retomada cíclica de curto
prazo, impulsionada pelo auxílio emergencial, e sua redução terá impacto maior
no consumo nos últimos meses do ano”, explica.
Com
uma previsão entre as mais otimistas para o PIB do terceiro trimestre, de alta
de 9,2% em relação aos três meses anteriores, Sergio Vale, economista-chefe da
MB Associados, faz um alerta para o que está por vir. “A maior preocupação é a
partir de agora, com o auxílio emergencial menor e com a pandemia aumentando, é
provável que o quarto trimestre decepcione. Por enquanto, prevemos avanço de
0,9%”, explica o economista.
Analistas
também pedem atenção para o problema do desemprego crescente. Silvia Matos,
coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getulio Vargas (FGV Ibre), reforça que, para a economia dar sinais de
vitalidade e de crescimento robusto, o principal termômetro é o emprego. “A
normalização da economia depende da retomada dos setor de serviços, que emprega
muita gente. Um dos principais sinais da economia é justamente a recuperação do
emprego, variável extremamente importante. E, como os setores menos intensivos
em capital humano se recuperam mais rápido, ainda vamos ver muitas pessoas
perdendo emprego, e a taxa de desocupação continuará elevada”, explica.
Desemprego em
alta
Os
indicadores mostram que o desemprego vai continuar crescendo após chegar ao
novo pico histórico de 14,6% no trimestre encerrado em setembro, batendo o
recorde de 14,1 milhões de desempregados no mercado formal e informal. Pelas
estimativas do Bradesco, por exemplo, neste ano, 4,633 milhões de vagas serão
fechadas. Esse número é superior aos 2,782 milhões de vagas criadas entre 2018
e 2019. A melhora do mercado formal no Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged) não vai evitar, portanto, o aumento do desemprego até
meados de 2021. Segundo os analistas, isso ocorre porque a maior parcela das
vagas é no mercado informal e a base ocupada está encolhendo para pisos
históricos. Pelas projeções de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados,
a taxa de desemprego em 2021 deverá encerrar o ano em 16,6%, por exemplo.
Apesar
do cenário de desemprego em alta, Fernando Honorato acredita que uma transição
da massa salarial poderá crescer no ano que vem, se houver retomada da
atividade e do mercado de trabalho. Isso porque a remuneração média do trabalho
informal é maior do que a média familiar do auxílio emergencial, de R$ 900.
Contudo, o economista-chefe do Bradesco lembra que, para haver maior
empregabilidade no mercado formal, é preciso maior previsibilidade para a
dívida pública. “É preciso uma grande agenda a ser feita”, destaca.
Sergio
Vale ressalta, ainda, que a inflação também é um fator de preocupação, apesar
de caminhar para encerrar o ano em 3,8%, abaixo da meta de 4%. “Os sinais para
frente não são tranquilizadores, porque os riscos sobem muito para 2021”,
afirma o economista-chefe da MB Associados.
Moradora
de Águas Lindas (GO) e vendedora de roupas, Leidiane Moreira de Jesus, 32 anos,
obteve o auxílio emergencial durante a pandemia. Ela aponta outro problema
aliado à redução do benefício pela metade: a carestia. Com a alta dos preços,
principalmente dos alimentos, ela vem reduzindo o consumo. “Agora que baixou (o
valor do auxílio), ficou, mas difícil, pois as coisas ficaram muito caras”,
conta.
*Com
o correio Brasiliense
Domingo,
29 de novembro, 2020 ás 9:46