Ministro
da Justiça aponta a revista que, em sua avaliação, objetivo de vazamentos de
conversas particulares era "anular condenações da Lava Jato"
Na
primeira entrevista desde a prisão de quatro suspeitos de invadir celulares de
autoridades dos três Poderes da República, o ministro da Justiça, Sergio Moro,
afirmou à revista "Crusoé" que "pessoas muito poderosas"
viram nos ataques hackers "uma oportunidade para reavivar tentativas de
retrocesso e revanchismo". Em sua avaliação, o vazamento de mensagens extraídas
de aplicativos, das quais diz não reconhecer a autenticidade, tem o objetivo de
anular condenações da Operação Lava-Jato.
"Existe
um status quo que foi extremamente contrariado pelas investigações. Pessoas
muito poderosas viram nesse ataque uma oportunidade para reavivar essas
tentativas de retrocesso e revanchismo. Me surpreendeu um pouco a agressividade
de determinados setores, o que denota um sentimento de revanche, de vingança
pelo trabalho institucional que foi realizado. Inclusive por parcelas da
advocacia", disse Moro.
Ex-titular
da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, Moro destacou que respeita advogados,
mas criticou que "parcela deles" veja o enfrentamento da corrupção
"a partir de uma perspectiva não muito positiva".
Na
entrevista, o ministro voltou a dizer que comunicou imediatamente à Polícia
Federal e pediu apuração ao perceber a invasão de seu celular. O ex-juiz negou,
porém, que tenha feito qualquer requisição de investigação sobre a divulgação
de mensagens pelo site The Intercept Brasil, que afirma ter recebido mensagens
de Moro de uma fonte anônima.
Desde
o começo de junho, o portal publica uma série de reportagens que apontariam
conluio do então magistrado com a acusação em processos da Lava-Jato. Moro e o
coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, contestam a
autenticidade do material. O "Intercept" defende que o conteúdo
publicado é autêntico e que deve ser publicado por envolver matérias de
interesse público.
"A
polícia está investigando o hackeamento. Na divulgação, pelo sensacionalismo
utilizado, pelo desrespeito às boas regras do jornalismo e pelo teor das
matérias, me pareceu que o objetivo era anular condenações da Lava Jato e
impedir novas investigações. Se isso foi direcionado a um indivíduo específico ou
a vários, é uma questão que não me cabe responder," destacou ele.
Nesta
terça-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Spoofing e deteve quatro
pessoas suspeitas de ataques a contas do Telegram de autoridades. Um dos presos
confessou ter invadido o aplicativo de Moro. Outros dois negam envolvimento. O
presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Otavio Noronha, chegou a
dizer que o ministro da Justiça o havia informado que as mensagens obtidas
seriam "descartadas", mas a PF afirmou caber à Justiça a decisão
sobre o destino do conteúdo.
À
revista Crusoé, Moro comentou sobre o custo pessoal dos vazamentos de
mensagens. O ministro disse que desenvolveu "certa resistência" por
ter sido magistrado durante anos e "tido investigações difíceis, envolvendo
pessoas perigosas", mas criticou o que chamou de "maledicência e
sensacionalismo" contra "um avanço institucional" no combate à
corrupção.
"Acho
que é um tratamento injusto. Há uma grande dose de injustiça e ignorância do
trabalho que foi feito e do contexto no qual ele foi realizado, de muita
dificuldade, que revelava o envolvimento em grande corrupção de personagens em
cargos elevados da República, o que gerava uma série de tensões e pressões
cotidianas. Na rua, porém, o que eu tenho visto é a intensificação o
apoio", destacou Moro. (IG)
Quinta-feira,
26 de julho, 2019 ás 11:00