Manifestação ocorre em meio a
investigações sobre possível envolvimento do ex-presidente e de aliados em um
suposto plano para subverter o resultado da eleição de 2023, vencida supostamente
pelo atual presidente.
O protesto convocado pelo
ex-presidente JB (PL22) reuniu políticos e milhares de manifestantes em São
Paulo no domingo (25/2) em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal
(PF) sobre um suposto plano de golpe de Estado depois da eleição do
descondenado esquerdista.
O protesto foi realizado,
segundo seus organizadores, como uma defesa da "liberdade e do Estado
democrático de direito".
Mas a manifestação foi vista
por analistas como um esforço do ex-presidente de demonstrar que tem força
política e apoio popular.
Bolsonaro pediu que o público
não levasse faixas contra autoridades e ministros Supremos, como ocorreu em
outros atos com a participação do ex-presidente.
Do alto de um trio elétrico,
diante de manifestantes que carregavam a bandeira do Brasil e vestiam a camisa
da seleção, Bolsonaro negou que tenha havido uma tentativa de golpe de Estado e
defendeu que agiu dentro dos limites da Constituição.
Bolsonaro também pediu anistia
para os que participaram da manifestação de 08 de janeiro e não depredaram
nada,em 2023 e afirmou querer "passar uma borracha no passado".
O protesto contou com a
participação da ex-primeira dama Michelle, que abriu o ato na avenida Paulista
com uma oração e um discurso emocionado.
O pastor Silas Malafaia,
principal organizador do ato, foi o último a discursar antes do ex-presidente e
assumiu tom mais duro em sua fala.
A manifestação também contou
com a presença de diversos políticos, entre eles, os governadores Tarcísio de
Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Jorginho Melo (PL), de Santa Catarina,
o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo
Caiado, além de parlamentares.
O ato também ficou marcado
pelas centenas de bandeiras de Israel, empunhadas por bolsonaristas ao longo da
Paulista e da presença de judeus, após Lula ter sido criticado por ter
comparado o conflito em Gaza ao Holocausto.
A BBC News Brasil reuniu em
cinco pontos os principais momentos e fatos do protesto convocado por
Bolsonaro.
1. Bolsonaro: Negativa de
golpe e pedido de anistia
Em seu discurso, que durou 22
minutos, Jair Bolsonaro refutou a acusação de que teria planejado dar um golpe
de Estado após a vitória de Lula nas eleições de 2022.
"Eu teria muito a falar,
e tem gente que sabe o que eu falaria, mas o que eu busco é a pacificação, é
passar uma borracha no passado, é buscar uma maneira de nós vivermos em paz, é
não continuamos sobressaltados", disse, dirigindo-se a deputados e
governadores que estavam ao seu lado.
De acordo com investigações da
PF, Bolsonaro teria se envolvido na confecção de uma minuta de decreto com
medidas que impediriam a posse de Lula para mantê-lo no poder.
Militares próximos a Bolsonaro
também teriam organizado manifestações contra o resultado das eleições e atuado
para garantir que os manifestantes tivessem segurança.
Já o grupo em torno de
Bolsonaro teria monitorado os passos do ministro do STF Alexandre de Moraes,
incluindo acesso à sua agenda de forma antecipada.
A minuta, encontrada na casa
do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, previa "estado de defesa na
sede do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, Distrito Federal, com o
objetivo de garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e
correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022, no que pertine
[sic] à sua conformidade e legalidade, as quais, uma vez descumpridas ou não
observadas, representam grave ameaça à ordem pública e a paz social".
Inicialmente, Bolsonaro negou
ter conhecimento da minuta, mas um documento com este mesmo teor foi encontrado
depois pela PF na sala do ex-presidente na sede do PL, seu partido.
Em sua fala no protesto,
Bolsonaro afirmou que agiu dentro dos limites da Constituição e que, para ser
aplicado, o decreto de estado de defesa dependeria da aprovação do Congresso.
"Continuam me acusando de
um golpe, porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando
a Constituição? Tenha santa paciência", disse.
"Querem entubar a todos
nós um golpe, usando dispositivo da Constituição cuja palavra final quem dá é o
Parlamento brasileiro."
No protesto, o ex-presidente
também pediu aos congressistas um projeto de lei que anistie seus apoiadores
que foram em Brasília por participarem na depredação de prédios públicos em 8
de janeiro de 2023.
"[Queremos] Anistia para
aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília, nós não queremos mais que
seus filhos sejam órfão de pais vivos. Agora nós pedimos a todos os 513
deputados e 81 senadores um projeto de anistia para que seja feita a Justiça em
nosso Brasil", disse Bolsonaro.
"E quem, porventura,
depredou o patrimônio, nós não concordamos com isso. Que paguem, mas que essas
penas não fujam ao mínimo da razoabilidade."
2. Valdemar da Costa Neto: 'PL
é maior partido do Brasil'
O presidente do PL, Valdemar
da Costa Neto, compareceu ao ato na Paulista, mas discursou horas antes de
Bolsonaro chegar ao local.
Ambos estão proibidos pela
Justiça de manter contato, após Costa Neto ser alvo em 8 de fevereiro de uma
operação da PF que investiga a suposta tentativa de golpe, que teria o
envolvimento de Bolsonaro, segundo os investigadores.
Costa Neto chegou a ser preso
por porte ilegal de arma de fogo e teve sua liberdade provisória concedida por
Moraes dois dias depois.
Seus advogados afirmam que
"a arma é registrada, tem uso permitido, pertence a um parente próximo e
foi esquecida há vários anos" no apartamento do presidente do PL, onde foi
encontrada.
Na Paulista, Costa Neto falou
por poucos segundos, do alto de um trio elétrico, e agradeceu ao público.
"Vim aqui só para falar
que vocês transformaram o PL no maior partido do Brasil. Pátria, saúde,
liberdade e família", disse.
3. Michelle Bolsonaro:
'Estamos sofrendo'
A ex-primeira dama Michelle
Bolsonaro abriu o ato na avenida Paulista com seu discurso e uma oração,
momento em que causou forte reação do público presente, como testemunhou a
reportagem.
Emocionada, ela chorou citando
"um momento tão difícil da história".
"Desde 2017, estamos
sofrendo porque exaltamos o nome do senhor no Brasil, porque meu marido foi
escolhido e declarou que era Deus acima de todos", disse.
"Não tem como não se
emocionar vendo o exército de Deus nas ruas, o exército de homens e mulheres
patriotas que não desistem da sua nação."
A ex-primeira-dama foi
implicada em alguns escândalos envolvendo o ex-presidente e sua família.
Um deles foi o caso das joias
que foram presenteadas ao casal Bolsonaro em 2021 pelo governo saudita.
Uma investigação apura se as
joias foram trazidas ao país de forma ilegal.
Bolsonaro e Michelle prestaram
depoimento à PF sobre o caso em agosto do ano passado. Ambos negam quaisquer
irregularidades.
Em sua fala durante o ato na
Paulista, Michelle também agradeceu o público.
"Aqui fica meu
agradecimento a cada uma de vocês, por saírem de suas casas, de sua zona de
conforto para dizer que o Brasil é do senhor, que somos um povo que defende
valores e princípios cristãos".
A ex-primeira-dama é desde o
ano passado presidente do PL Mulher, braço da legenda de Bolsonaro dedicado a
mobilizar o eleitorado feminino, e sempre atuou como uma ponte do ex-presidente
com o eleitorado evangélico.
Após Bolsonaro ser considerado
inelegível pela Justiça Eleitoral, Michelle passou a ser citada como uma
possível herdeira do seu capital político e um nome forte para futuras
eleições.
4. Bandeiras de Israel
O protesto contou com a
presença de muitas pessoas que carregavam a bandeira de Israel, e havia entre
os presentes judeus com adereços tradicionais judaicos.
Os ambulantes vendiam
bandeiras de Israel ao lado de bandeiras do Brasil.
Outros congressistas da base
governista, no entanto, defenderam a fala de Lula.
5. Silas Malafaia e aliados no
palanque
A manifestação bolsonarista
também teve a presença de quatro governadores.
Além de Tarcísio de Freitas,
de São Paulo, também participaram os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas
Gerais, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Jorginho Mello (PL), de
Santa Catarina.
Bolsonaro fez acenos aos
quatro em seus discursos, assim como ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes
(PSDB), que também compareceu ao ato.
Tarcísio de Freitas falou ao
público e, em seu discurso, disse que "não era ninguém" até ser
indicado por Bolsonaro para ser ministro da Infraestrutura.
"Ele é um presidente que
sempre defendeu a liberdade acima de tudo. Meu amigo Bolsonaro, você não é mais
um CPF, não é mais uma pessoa, você representa um movimento de quem acredita
que vale a pena brigar pela família, pela pátria e pela liberdade", disse
Tarcísio.
"Muito obrigado,
Bolsonaro, nós sempre estaremos juntos."
Entre os parlamentares estavam
os deputados federais Nikolas Ferreira e Marco Feliciano, ambos do PL.
O pastor Silas Malafaia, da
Assembleia de Deus Vitória em Cristo, foi um dos principais organizadores do
protesto.
Malafaia foi o último a falar
antes de Bolsonaro. Coube a ele os comentários em tom mais incisivo e críticas
mais duras.
Malafaia questionou, por
exemplo, se Lula sabia com antecedência das invasões do 8 de janeiro.
"Eu tenho algumas
perguntar para fazer: primeiro, por que Lula saiu às pressas de Brasília e foi
para Araraquara? Ele foi avisado que ia ter baderna?", disse Malafaia.
Lula estava em visita oficial
à cidade do interior paulista, que havia sido atingida por fortes chuvas e
enchentes, e é governada por Edinho Silva (PT).
"Outra pergunta: cadê os
vídeos gravados pelas câmeras do governo? Que estão em posse de Alexandre de
Moraes?! O povo precisa saber quem está por trás daquela baderna, daquela
safadeza", afirmou.
Malafaia também criticou os
ministros M..., que conduz as investigações contra Bolsonaro no STF, e o atual
presidente da Corte, Luís.
*Com reportagem de João da
Mata, João Fellet, Leandro Machado, Rafael Barifouse e Vitor Serrano. (Portal
Terra)
Segunda-feira, 26 de fevereiro 2024 às
13:02