O
engajamento de profissionais de saúde atualizados e bem capacitados é uma das
principais ferramentas que a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) destaca
para reverter a queda nas coberturas vacinais durante a pandemia de covid-19. O
tema foi discutido na tarde de quinta-feira (15/10) na abertura da Jornada
Nacional de Imunizações, que ocorre neste ano em formato online por causa das
medidas de prevenção ao novo coronavírus.
A
presidente da comissão científica do evento e vice-presidente da SBIm, Isabela
Balalai, afirmou que o mundo vive não apenas uma pandemia de covid-19, mas
muitas "pandemias" relacionadas à desinformação que ameaçam a saúde
coletiva.
"Vivemos
uma pandemia da covid-19, uma pandemia de desinformação, uma pandemia da
politização da ciência, uma pandemia de baixas coberturas vacinais. Não vivemos
apenas uma pandemia, vivemos várias", afirmou. "Diante desse cenário
de tantas pandemias, o empoderamento de nós, profissionais de saúde, se faz
mais do que necessário. É isso que faz a população se vacinar, e é isso que faz
a população acreditar na ciência."
O
presidente da SBIm, Juarez Cunha, também aproveitou o evento para destacar o
protagonismo dos profissionais de saúde na missão de combater a queda das
coberturas vacinais. "O brasileiro, historicamente, confia e acredita não
só nas vacinas, mas em nós, profissionais de saúde. Podemos e devemos reverter
esse quadro. Para isso, precisamos estar cada vez mais preparados, capacitados
e atualizados".
Cunha
manifestou preocupação com o crescimento da hesitação às vacinas, termo que se
refere ao atraso ou recusa em se vacinar quando a imunização está disponível
gratuitamente. "Se já tínhamos coberturas vacinais baixas antes da
pandemia, por vários motivos, elas pioraram, e muito, em 2020. Como consequência,
aumentaram os riscos que a nossa população desprotegida está correndo,
principalmente as crianças", alertou.
No
mês passado, a SBIm já havia lançado um alerta sobre a baixas taxas de
vacinação no país, destacando que nenhuma das vacinas recomendadas para menores
de 2 anos havia atingido 60% do público-alvo até agosto. Para enfrentar o
problema, o Ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Vacinação contra
a Poliomielite e de Multivacinação, com o objetivo de imunizar mais de 11,2
milhões de pessoas e conscientizar a população sobre a importância das vacinas
para a proteção contra diversas doenças.
A
campanha começou no dia 5 e vai até 30 de outubro, com o Dia D de vacinação
marcado para o próximo sábado (17). A coordenadora-geral do Programa Nacional
de Imunizações (PNI), Francieli Fontana, enviou uma mensagem de vídeo ao evento
em que destacou a importância de aproveitar a campanha para atualizar a
caderneta de vacinação de crianças e adolescentes.
"Nós,
profissionais de saúde, temos um papel fundamental na ampliação das coberturas
vacinais das nossas crianças e adolescentes, para que estejam protegidos e que
não haja o recrudescimento de doenças já eliminadas e sob controle",
disse. "É muito importante que a gente se engaje e participe ativamente
dessa campanha orientando a população que está na ponta."
As
pesquisas em andamento para desenvolver uma vacina contra o coronavírus
SARS-CoV-2 foram tema de uma apresentação do pediatra e infectologista Renato
Kfouri, que é diretor da SBIm e presidente do Departamento de Imunizações da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Apesar de destacar os avanços, Kfouri
ponderou que ainda "há mais perguntas do que respostas neste
momento".
Segundo
Kfouri, há 190 projetos de vacina em desenvolvimento, sendo 42 já em testes em
seres humanos. Neste último grupo, 10 chegaram à Fase 3, em que a eficácia e a
segurança são testadas em milhares de voluntários.
Entre
as que estão na Fase 3, há vacinas de diferentes tipos, incluindo algumas estratégias
consideradas por ele inovadoras. O infectologista citou duas pesquisas com
vacinas de ácidos nucleicos, conduzidas pela farmacêutica Moderna e pela
colaboração entre a Biontech, Pfizer e Fosun Pharma. Sua ação consiste na
inserção do material genético do vírus no organismo para que as células humanas
sejam estimuladas a produzir os antígenos de forma inofensiva. Esse processo
faria as defesas do corpo reagirem, produzindo os anticorpos. "São vacinas
absolutamente modernas", disse ele, destacando que os materiais genéticos
utilizados podem ser mais facilmente produzidos em larga escala em laboratório.
Outra
novidade destacada pelo infectologista está no projeto da vacina russa do
Gamaleya Research Institute, que prevê duas doses com a utilização de dois
tipos diferentes de adenovírus (vírus do resfriado) como vetores virais. Nesse
tipo de vacina, um vírus diferente do coronavírus é usado para transportar
genes do SARS-CoV-2 para o corpo da pessoa vacinada, desencadeando a produção
de defesas.
Para
que as vacinas que forem comprovadas cheguem a todos, o infectologista defendeu
a iniciativa da Organização Mundial da Saúde para abastecer os países mais
pobres. Chamado de Covax Facility, o projeto consiste em um fundo que será
apoiado por países com mais recursos, como o Brasil. "Muitos países não
têm laboratórios para receber transferência de tecnologia e não têm condições
econômicas para comprar a vacina. Só estaremos livres da pandemia quando
controlarmos globalmente a circulação da covid-19." (ABr)
Quinta-feira,
15 de outubro, 2020 ás 20:30