O ex-governador Iris Rezende
criticou a administração do governador Marconi Perillo e defendeu um
engajamento maior de seu partido, o PMDB, para aplicar “uma nova forma de
governar” em Goiás. Iris considera que a situação político-administrativa no
Estado está sendo de “calamidade” e muito preocupante.
Ainda recluso e sem muitas
aparições públicas, o velho líder saiu de sua fazenda em Canarana, no Mato
Grosso, onde comanda pessoalmente a colheita de soja, para paraninfar uma turma
de formandos de Ciências Contábeis nessa última semana. Enquanto aguardava a
cerimônia da colação de grau, Iris falou com exclusividade para o Diário da
Manhã e sentenciou que do jeito que a conjuntura em Goiás está “não se sabe
onde vai parar”.
Com quase meio século de vida
pública, Iris Rezende é liderança em seu partido e nas oposições ao governo do
Estado e demonstra mudanças substanciais em sua forma de fazer política. Muito
mais conciliador do que já foi um dia, demonstrando capacidade para ouvir e
avaliar os pontos considerados por seus interlocutores, ele é bem diferente do
líder que retornou ao poder 30 anos atrás, em 1983, na esteira de um milhão de
votos e inaugurando uma nova era de poder em Goiás.
O Iris de agora tem a malícia que
só a experiência dá aos políticos e sabe seduzir com a argúcia de quem ouve,
avalia e mede as palavras para dizer exatamente o que o interlocutor quer
ouvir. Diluíram-se todas as arestas que quem exerce o poder invariavelmente
desenvolve e sabe que poder é muito mais convencimento do que obrigação a uma
determinação.
Sempre lembrado como virtual
candidato ao governo do Estado em 2014 ele declara não ter pretensão de entrar
na disputa novamente e acredita que a aliança PT/PMDB é uma composição política
que deu certo e que deverá ser mantida por muitos pleitos ainda. “Juntos nós
teremos mais força para realizarmos os projetos e anseios da população”.
Diário da Manhã – Qual é sua
avaliação sobre o quadro político em Goiás?
Iris Rezende - Determinados
momentos exigem de nós muita observação e compreensão, porque se por um lado os
governantes na esfera federal e estadual estão descambando para a segunda
metade de seus mandatos, os prefeitos e vereadores estão iniciando suas
gestões. Então não se pode exigir dos mandatários nos municípios um
comportamento que mostre os resultados que todos esperamos. O tempo decorrido
ainda foi curto e é difícil mostrar a olhos vistos algum resultado positivo.
Acredito que no próximo ano já será possível cobrar da presidenta, dos
parlamentares e dos governos estaduais uma prestação de contas. Será possível
avaliar, principalmente daqueles que buscam a reeleição, se realmente fizeram
jus à confiança que o povo lhes depositou. Se cumpriram o que foi proposto e se
honraram a palavra empenhada junto à sociedade. Em Goiás vamos fazer essa
cobrança juntamente com a população e vamos avaliar o quadro político de forma
mais detida.
DM – O senhor avalia que o PMDB deva lançar
candidatura majoritária própria nas eleições de 2014?
Iris Rezende - Eu tenho comigo a
ideia de que o PMDB tem perdido terreno ao não lançar candidato à presidência
da República. Há quanto tempo isto não acontece. Quando eu era senador lutei
muito para que o PMDB tivesse um candidato a presidente, que seria Itamar
Franco. O hoje prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, que era nosso
candidato à presidência do diretório nacional do PMDB, também defendia uma
candidatura própria. Infelizmente ele foi derrotado na escolha para o
diretório. De lá prá cá nosso partido tem ficado a reboque, ora do PSDB e em
outros momentos a reboque do PT, de forma que isto tem se revertido contra o
partido. Eu defendo que seja trabalhada uma candidatura genuinamente
peemedebista, não para o próximo pleito em 2014, quando a liderança da
presidenta Dilma é incontestável e fazemos parte desse governo, mas em um
outro momento adiante.
DM – E no plano estadual PT e
PMDB devem marchar juntos?
Iris Rezende – Claro. Nossos
partidos desenvolveram ações radicalizadas durante muito tempo e isolados. Com
a minha eleição para a prefeitura de Goiânia surgiu a possibilidade de uma
composição muito produtiva em 2004. À época eu disse que esperava ser essa
aliança muito duradoura e continuo acreditando que foi uma aproximação de
grande valia. Eu entendo que vamos caminhar juntos, PT e PMDB, por muito tempo
ainda, porque juntos temos mais força para realizar os projetos e sonhos do
povo goiano.
DM – O senhor é candidato
ao governo em 2014?
Iris Rezende – Hoje não. Eu não
estou pensando em candidatura. Em 2004 eu sequer cogitava uma candidatura a
prefeito de Goiânia. Jamais cogitei isto. E, no entanto, nos últimos dias de
registro de candidatura eu saí candidato a prefeito. Na eleição de 2010 também
eu fui categórico, inclusive com o Paulo Garcia, que era nosso vice-prefeito,
de que eu em hipótese alguma deixaria o cargo na prefeitura para ser candidato
ao governo. Daí a 20 dias tive de chamar o Paulo e dizer que tudo havia mudado.
Eu recebi a visita de 39 prefeitos do PMDB e 10 deputados que me emocionaram e
eu saí candidato. De forma que eu nunca dizer sim ou não para amanhã faltar com
a palavra anterior. Mas, eu estarei aí junto com nossos companheiros buscando
pra Goiás o que for melhor. Uma coisa é certa: o PMDB precisa estar à frente
desse processo porque Goiás não pode continuar como está. Nosso estado está
sofrendo com uma falta de ação pública, com um governo que tem deixado muito a
desejar e consequente tudo está a esperar de nós uma intervenção.
DM – O que está faltando?
Iris Rezende – Tudo. Está tudo
muito difícil sob todos os aspectos. Em todas as áreas o governo está deixando
tudo a desejar. Saúde, segurança pública, educação, saúde, a situação das
nossas rodovias com os produtores com sérias dificuldades para escoar sua
produção e as finanças do estado em situação de calamidade. Nesse ritmo eu não
sei onde nós vamos chegar, francamente eu temo pelo futuro de Goiás.
Fonte: Diário da Manhã
Por: Hélmiton Prateado
Segunda-feira 8 de abril
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