Pela
enésima vez, PMDB e PT buscam a reaproximação, mas não está fácil para ninguém.
Tudo levava a crer que o jantar de segunda-feira com a equipe econômica havia
selado um acordo para que o PMDB apoiasse a aprovação do pacote fiscal do
governo, quando ficou claro que nem mesmo o PT está disposto a dar sua
aprovação cegamente. E por que o PMDB o faria, ficando exposto às críticas da
opinião pública, enquanto o PT sai de bonzinho?
O
afastamento entre PMDB e PT, explicitado na campanha presidencial, é promessa
de crise nos próximos anos, à medida que as forças políticas começarem a buscar
seus espaços na reorganização do poder, que todos sentem que está prestes a acontecer,
a partir deste que pode vir a ser o último dos governos petistas em sequência.
O
desgaste partidário vem ficando evidente nas sucessivas crises políticas em que
o PT se vê envolvido desde 2005, o que reduz a expectativa de poder, que é o
combustível para a manutenção da base aliada. Mesmo sendo o principal partido
da base aliada, o PMDB, descobre a cada dia que perde poder de fato, embora na
aparência esteja mais forte, com 6 ministérios e a vice-presidência da
República.
Mas
os ministérios somados não têm a verba do ministério das Cidades, e quatro são
meras secretarias com nível ministerial. E o vice Michel Temer não fala com a
presidente sobre coisas concretas, como a ocupação do segundo escalão, há um
mês. Quando o PMDB sentiu que o novo "núcleo duro" do Palácio do
Planalto, do qual exige fazer parte, estava armando um esquema político para
dar mais força a partidos aliados como o PSD de Gilberto Kassab, o PROS de Cid
Gomes, o PP e o PTB, que receberam ministérios importantes e com verbas, decidiu
partir para a disputa novamente das presidências da Câmara e do Senado, sendo
que a eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara deu-se
derrotando diretamente o governo.
O
senador Renan Calheiros, que continua na presidência do Senado, jogou água fria
ontem na comemoração da reaproximação do PT quando disse que a coalizão estava
"capenga", informando que os cortes serão da ordem de R$ 80 milhões,
segundo a equipe econômica comunicou ao PMDB.
Mesmo
com o Congresso fragilizado pelas constantes denúncias envolvendo seus membros,
o PMDB, continuando a dominar as duas Casas, tem condições de barrar
iniciativas do Executivo, de propor ações concretas, de não limitar sua ação ao
fisiologismo, se quiser ter um peso decisivo nas próximas eleições.
O
deputado Eduardo Cunha assumiu delimitando seus poderes claramente, dando
demonstrações de que a independência da Câmara em relação ao Executivo será a
base de sua administração. Sinais de ter boa vontade com o governo também cabem
nesse figurino, quando defendeu por exemplo a aprovação do pacote fiscal
alegando que é preciso ter responsabilidade nos momentos decisivos.
Embora
tenha instalado a CPI da Petrobras, Cunha acabou dando a relatoria para o PT,
mas guardou a presidência para um aliado de fé, o jovem deputado Hugo Motta, da
Paraíba, que até o momento está mais preocupado em marcar sua independência em
relação ao governo.
Essa
preocupação não é só do PMDB, mas de todos os partidos aliados do governo que
têm projetos políticos de mais longo prazo, como o PSB - que já anunciou que
continuará independente. O PMDB começa a mudar de posição em relação à disputa
presidencial, que não disputou nos últimos anos para se tornar parceiro
preferencial de qualquer governo a ser eleito.
Com
isso, ao longo dos anos, perdeu uma imagem política nacional, embora domine a
política regional mantendo sua estrutura enraizada por todo o país. Há cada vez
mais políticos dentro do PMDB que consideram que é chegado o momento de
disputar com candidato próprio a eleição presidencial de 2018, para que o
partido deixe de ser vítima de sua própria estratégia política, sem condições
de governar, mas imprescindível a qualquer governo.
(Merval Pereira O GLOBO -
25/02)
Quarta-feira,
25 de fevereiro, 2015
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