O
Ministério da Educação (MEC), estados e municípios estão se unindo para
articular estratégias de combate ao novo coronavírus (Covid-19) na área da
educação. As unidades federativas passam por momentos diferentes em termos de
propagação do vírus. O Distrito Federal e o Rio de Janeiro, por exemplo,
decidiram suspender as aulas, mas, em Mato Grosso do Sul, que até sexta-feira
não tinha casos confirmados da doença, o sistema de ensino mantinha as
orientações de prevenção.
Nesta
semana, foi criado o Comitê Operativo de Emergência do MEC, formado por
entidades educacionais representativas das escolas e universidades brasileiras.
A primeira reunião oficial do grupo deve ocorrer na segunda-feira (16/03).
“Uma
questão central para a gente é não ter alarde, porém ter bastante
responsabilidade com as informações”, diz o presidente da União dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia. Uma estratégia
adotada pela Undime, desde já, é orientar as redes de ensino a escolher
representantes atentos às novidades em relação ao coronavírus.
“Uma
sugestão é que cada escola tenha uma pessoa para ser a conexão com a rede, e a
rede possa definir as práticas locais”, propõe Garcia em vídeo divulgado pela Undime aos dirigentes municipais de
todo o país.
Garcia
destaca que a entidade se organiza para que as informações dadas pelo MEC
cheguem a todas as escolas e que, caso sejam necessárias medidas mais duras em
nível nacional, todas as redes estejam a par e organizadas para cumprir as
orientações. “Havendo indícios técnicos da necessidade de suspensão de aulas,
estamos prontos para organizar esse processo sem tumulto. ”
"O
que gostaríamos, e vamos depender do MEC, é da definição de um protocolo. Um
protocolo do que fazer se tiver um caso na escola, por exemplo. Teve menino com
suspeita. Só este menino sai da sala? Os outros ficam? Confirmou, a sala é
suspensa? A gente não tem ainda esse protocolo", enfatiza a presidente do
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Cecilia Motta.
Essas
e outras questões, como a forma de reposição das aulas, caso estas sejam
suspensas, deverão ser abordados na reunião de segunda no MEC.
Na
segunda-feira, está prevista também reunião da diretoria do Consed com
representantes de organizações privadas e fundações educacionais dispostas a
ajudar as redes de ensino e tratar de possíveis estratégias.
Uma
das estratégias discutidas, em caso de suspensão das aulas, dependendo da etapa
escolar dos estudantes, é a realização de atividades a distância. A orientação
é dada sobretudo a escolas particulares. Na sexta-feira (13), a Federação
Nacional das Escolas Particulares (Fenep) divulgou nota recomendando que as escolas
a avaliem potenciais planos de contingenciamento buscando "amenizar ao
máximo os possíveis danos ao ambiente educacional do país".
"O
nosso objetivo é preservar a integridade dos alunos e, consequentemente,
diminuir o impacto no calendário letivo. Desta forma, orientamos também as
escolas a considerar a possibilidade de substituição excepcional das aulas
presenciais por virtuais, tendo como apoio o uso de ferramentas tecnológicas.
Sugerimos inclusive que esta opção de atendimento ao aluno seja contabilizada
como atividade letiva", diz trecho da nota.
O
presidente da Fenep, Ademar Batista Pereira, diz que as escolas estão avaliando
sua própria situação e a dos locais onde estão inseridas. A escola que, por
segurança ou por decisão do governo, suspender as aulas presenciais "tem
que cumprir a carga horária, tem que resolver o problema pedagógico. A escola
tem autonomia, mas tem também responsabilidades", acrescenta Pereira.
De
acordo com representantes dos estados e municípios, entre as escolas públicas,
a falta de infraestrutura é impedimento para recorrer às aulas remotas. Na
opinião de Garcia, as redes municipais “não têm a mínima condição [de dar aulas
à distância]. Temos muitas escolas que não têm nem sinal de internet, que têm
recursos de informática precarizados”. As redes municipais são responsáveis,
prioritariamente, pela educação infantil e pelos primeiros anos do ensino
fundamental, ou seja, da creche até o 5º ano do ensino fundamental.
Cecília
ressalta que a situação dos estados, que concentram prioritariamente nas redes
os estudantes a partir do 6º ano do ensino fundamental até final do ensino
médio, é bastante diferente em termos de conectividade. Enquanto alguns estados
têm boa conectividade e conseguem ofertar disciplinas a distância para repor
aulas, outros não têm sinal de internet em várias localidades. "Se eu sair
10 quilômetros da cidade, a minha internet não pega", diz sobre Mato
Grosso do Sul, onde é secretária estadual.
A
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
tem um balanço, atualizado diariamente, sobre a suspensão de atividades em escolas e universidades em todo
o mundo. Até sexta-feira, pelo menos 39 países haviam suspendido a aula
nacionalmente, afetando mais de 420 milhões de estudantes. Em 22 países, entre
os quais o Brasil, as aulas foram suspensas em algumas partes do território.
De
acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, o Brasil tem 121 casos
confirmados de infecção pelo novo coronavírus em todo o território nacional.
São Paulo e Rio de Janeiro concentram o maior número de casos confirmados.
(ABr)
Sábado,
14 de março, 2020 ás 20:00