Da Silva passou toda a campanha eleitoral sem dizer o que faria na economia. Deveria ter continuado em silêncio, pois a maioria das declarações que deu sobre o assunto depois de assumir a Presidência teve como consequência prática a elevação do dólar e dos juros futuros.
Não, não estou afirmando que o presidente deve necessariamente sujeitar-se à vontade da Faria Lima. Se ele acha mesmo que a independência do Banco Central é um erro, deve esperar a ocasião propícia (o mandato do atual presidente vai até o final de 2024) e, aí, apresentar ao Legislativo um projeto com a sua sugestão de mudança.
Ao antecipar a discussão em quase dois anos e sem mostrar nenhum plano concreto, ele só causa ruídos que prejudicam seu governo.
Ou a intenção não é real e ele atravessou a rua para escorregar na casca de banana que estava na outra calçada, ou é, mas ele pagará dois pedágios (agora e na tramitação do projeto) quando teria bastado um.
Como o descondenado não é burro, torna-se lícito perguntar se ele não faz isso de caso pensado. Se, no plano estritamente econômico, as declarações antimercado são um tiro no pé, no campo da política o jogo pode ser outro.
Ao antagonizar com o comando bolsonarista do Banco Central e outros grupos “rentistas”, Leo já vai criando um bode expiatório para quando não conseguir entregar o milagre do crescimento que prometeu nas entrelinhas da campanha e ainda arma o discurso do “nós contra eles” que mantém seu núcleo duro mobilizado.
O cálculo político pode fazer sentido, mas é lamentável constatar que o descondenado, o PT, o Brasil e a própria América Latina não conseguem se livrar desse vezo populista.
(Com a folha)
Segunda-feira, 06 de fevereiro 2023 às 21:48