O
Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente Jair Bolsonaro, lançado
quarta-feira (18/12), uma campanha com propósito explícito de arregimentar
filiados de outras legendas para seus quadros e, assim, garantir o número
mínimo de assinaturas necessários à sua homologação, destaca o jornal O Estado
de S. Paulo. Com o mote de mobilizar um “exército de aliados” para se “libertar
da velha política” e apoiar a fundação da nova sigla, um vídeo divulgado por
aliados de Bolsonaro anuncia que “hoje é o Dia D”, da desfiliação, e de
“participar da construção de um novo Brasil”.
São
necessárias mais de 492 mil assinaturas, colhidas em nove Estados e validadas
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para um partido, como o Aliança, ser
formalizado. Antes mesmo de sair do papel, a sigla que Bolsonaro quer criar já
causa apreensão no Congresso.
Com
perfil nacionalista, o Aliança provoca desconforto em siglas de centro e de
direita e até mesmo entre evangélicos – principal base do eleitorado do
presidente. São alas simpáticas ao Palácio do Planalto, que temem perder
deputados e senadores em um “ataque especulativo” promovido por bolsonaristas,
além de espaço na estrutura do Legislativo e recursos dos fundos partidário e
eleitoral.
No
vídeo da campanha do “Dia D”, um locutor afirma que, para apoiar a formação do
Aliança pelo Brasil, o eleitor não pode estar filiado a outro partido. No TSE,
a mensagem foi interpretada como uma forma de Bolsonaro esvaziar o PSL –
partido do qual de desfiliou em 19 de novembro – desqualificar as demais
siglas.
Os
dirigentes do Centrão admitem, de forma reservada, que Bolsonaro tem a
oportunidade de formar, gradualmente, uma bancada com um número representativo
de parlamentares até 2022. Na estimativa mais elevada, há quem fale em uma
centena de congressistas. Há 21 anos, nenhuma bancada atinge esse tamanho em
eleições. A última foi justamente representada por um ícone do Centrão: o
antigo PFL – que deu origem ao DEM – alcançou 105 deputados em 1998.
Atualmente, as maiores legendas na Câmara são o PT e o PSL, com 53 cada.
Dirigentes
políticos avaliam que o triunfo do Aliança está atrelado ao desempenho do
governo e dependerá da reversão do desemprego e do deslanche da economia.
“O presidente pode até levar deputados porque
tem a caneta, mas os partidos também podem reagir contra”, disse Elmar
Nascimento (BA), líder do DEM na Câmara. Nos últimos dias, a cúpula do DEM
reativou as sondagens para uma possível fusão com o PSL, na tentativa de se
fortalecer diante do avanço de Bolsonaro.
A
tendência para os próximos anos, no entanto, é de redução na quantidade de
partidos e de concentração dos parlamentares em bancadas maiores, segundo
analistas, por causa da cláusula que institui uma barreira de quantidade mínima
de votos para acesso aos fundos públicos e exposição no rádio e na TV. Os
efeitos já começaram: em 2018, 30 legendas elegeram deputados, mas hoje só 24
têm representantes na Câmara, após fusões de agremiações.
A
Igreja Universal do Reino de Deus, que tem o Republicanos como braço
partidário, avisou que, até segunda ordem, não abrirá suas sedes para coletar
assinaturas de apoio ao Aliança. O Estado apurou que a igreja do bispo Edir
Macedo realmente não se empenhará para ajudar. No Republicanos, os deputados
João Campos (GO) e Capitão Alberto Neto (AM), que não são diretamente ligados à
cúpula da Universal, dão sinais de que podem aderir à nova legenda.
Por
outro lado, o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), ligado à Assembleia de Deus
Ministério Madureira, disse que as igrejas deverão ajudar a levantar o número
de assinaturas necessárias para o registro do partido de Bolsonaro.
O
Aliança tende a abrigar de imediato quem foi expulso do partido anterior, como
o pastor Marco Feliciano (SP), da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento,
prestes a deixar o Podemos. Logo na largada, a nova legenda deve tirar dois
governadores do PSL: Antonio Denarium (Roraima) e Marcos Rocha (Rondônia).
A
cisão na bancada federal do PSL poderá render ao Aliança mais 25 deputados.
Além disso, apoiadores de Bolsonaro afirmam que conversam com 20 parlamentares
de diferentes partidos na Câmara. Os nomes são mantidos em segredo para evitar
retaliações.
O
Aliança tenta ainda uma via alternativa: questionar na Justiça se ainda vale
uma brecha, prevista em 2007 pelo TSE, para troca de partido sem incorrer em
infidelidade, a hipótese de fundação de uma nova legenda. Em 2015, a
possibilidade foi excluída da legislação. “Caberá ao Judiciário apresentar o entendimento
para verificar se a resolução está em pleno vigor”, disse a advogada Karina
Kufa, tesoureira do Aliança.
(Agência
Estado)
Sábado,
21 de Dezembro, 2019 ás 11:00