Definitivamente,
não se pode dizer que 2019, primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, tenha sido
positivo para a imagem do Brasil no exterior. O presidente atribui o mau
momento à mídia, às esquerdas, a uma espécie de propaganda negativa
sistemática. Mas será que é isso mesmo?
Na
sexta-feira, em Madri, a Conferência do Clima da ONU (COP) conferiu ao Brasil o
prêmio “Fóssil Colossal”, que, como o próprio nome diz, é uma ironia com os
piores desempenhos na proteção do meio ambiente. É dramático, porque o Brasil
despencou de um extremo a outro: de líder mundial de proteção para alvo de
chacota.
No
mesmo dia, a prestigiada revista Nature incluiu o professor Ricardo Galvão
entre os cientistas do ano. E quem vem a ser? É o presidente do Inpe que foi
demitido e humilhado publicamente depois de Bolsonaro achincalhar os dados do
instituto sobre desmatamento. E, veja bem, os novos dados coletados pelo
próprio governo confirmaram depois o quanto o Inpe estava certo.
Em
meio a essa sucessão de vexames, o presidente bateu boca num dia com a ativista
adolescente Greta Thunberg – a quem chamou de “pirralha” – e no dia seguinte
ela surgiu, toda poderosa, como personagem do ano e da capa da revista Time. O
presidente bem poderia ter passado sem mais essa.
Apesar
de tudo, os dados que estão para ser consolidados vão confirmar que, em 2019, o
Brasil manteve o desempenho nas importações e só perdeu um pouco nas
exportações. E por questões pontuais: a má performance da Argentina, um dos
maiores parceiros, e a epidemia do rebanho suíno da China, que reduziu muito a
necessidade de soja para alimentar os porcos. Descontados esses infortúnios, o
desempenho é considerado bom, estável, e pronto a crescer.
E,
afinal, o que é melhor para o Brasil? Os Estados Unidos e a China – as duas
maiores potências – manterem o clima de beligerância e os ataques mútuos, ou
efetivarem o acordo de paz?
Há
controvérsias, mas parece prevalecer a avaliação de que é muito melhor para
todo o mundo, literalmente, e para o Brasil, particularmente, que os dois
gigantes se entendam, porque isso garante equilíbrio mundial, estabilidade,
segurança e estanca a previsão de queda do crescimento global.
Quanto
mais economia, desenvolvimento, comércio, melhor, muito melhor do que vantagens
eventuais que a agricultura brasileira possa ter com a guerra. Ok. Se a China
deixa de comprar produtos agrícolas norte-americanos, a tendência é de que
desvie o foco para os brasileiros. Mas isso é pontual, residual, restrito a um
único setor.
Ainda
no cenário internacional, o Brasil perdeu e os EUA ganharam com o excesso de
reverência de Bolsonaro a Donald Trump. E, no regional, o pedido de refúgio do
ex-presidente boliviano Evo Morales vai consolidando a Argentina como o novo
polo da esquerda sul-americana, depois que a Venezuela virou pó.
A
Argentina polo da esquerda e o Brasil da direita não é um cenário
tranquilizador. Apesar disso, Bolsonaro e Fernández têm trocado recados
apaziguadores e promessas de pragmatismo nas relações comerciais e diplomáticas
em termos mais abrangentes. Espera-se que sim, mas lembrando que Bolsonaro é
Bolsonaro e que o kirchnerismo é o kirchnerismo.
Por
fim, 2019 registrou ataques de Bolsonaro a Macron, sua mulher, Fernández,
Bachelet, Greta, Leonardo Di Caprio, ONGs e aos povos do Chile e do Paraguai
(ao enaltecer Pinochet e Stroessner), além de ter gerado temores, no mundo
desenvolvido e nos nossos parceiros tradicionais, sobre as políticas
indigenista, ambiental, cultural, educacional e de direitos humanos. Aos olhos
do mundo, o Brasil anda para trás.
(Estadão)
Participe dessa ideia, fale com socorro Pires
Terça
- feira, 17 de Dezembro, 2019 ás 11:00
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