E também de toda essa gente
que quer salvar o Brasil. A matriz econômica nacional é a tunga de dinheiro
público para manter a freguesia
Acordo neste domingo sufocante
de calor e me deparo com o ex-ministro da Fazenda tucano Pedro Malan evocando a
petista Dilma Rousseff em artigo publicado no Estadão. Confesso que, diante do
embaralhamento de posições quadro político-econômico, já não sei dizer se há
certa ironia na lembrança de Pedro Malan. Mesmo que haja, contudo, ela é
encoberta pelo pensamento positivo em que a lembrança se insere. O ex-ministro
está em busca de “convergências possíveis” entre quem quer o Estado gastando o
que não pode e quem quer o Estado economizando no que pode.
Pedro Malan cita uma fala de
Dilma Rousseff, em entrevista coletiva que a então presidente da República
concedeu em 2014. Disse ela:
“‘Ao longo do governo, você
descobre que várias coisas estão desajustadas. Várias contas que podem ser
reduzidas, (…) o que vamos tentar é um processo de ajuste em todas as contas do
governo, vamos revisitar cada uma e olhar com lupa o que dá para reduzir, o que
dá para tirar’. Surpreendente declaração para alguém que naquele momento já
vinha de cinco anos à frente da Casa Civil e quase quatro anos como presidente
da República. Mas a sugestão de Dilma, ainda que nunca implementada, permanece
relevante para o governo recém-eleito, que não deveria desperdiçar a
oportunidade sugerida ao longo dos seus próximos quatro anos. E transformando o
tema em política permanente.”
Ao longo do governo de Dilma
Rousseff, o que ela fez foi cometer uma fraude gigantesca, a fim de maquiar o
desastre fiscal que havia causado com a sua “nova matriz econômica” e, assim,
conseguir a reeleição. O resultado foi uma das piores recessões econômicas já
experimentadas pelo país — e que a maioria dos brasileiros já esqueceu.
As “convergências possíveis”
de Pedro Malan partem do pressuposto de que, sim, é preciso mesmo, de vez em
quando, aumentar os gastos públicos, para fazer frente às necessidades sociais
e também para estimular a economia e coisa e tal. Mas que também dá para
controlar os gastos públicos e coisa e tal, vamos deixar a ideologia de lado,
por favor, e salta mais um chopp. Para ilustrar o seu ponto, depois de citar
Dilma Rousseff, ele faz referência ao ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe
González, flor da social-democracia europeia, que costumava afirmar: “O grande
problema da ideologia é que ela obscurece o debate de ideias sobre a ação do
poder público, ao tratar como grandes questões políticas e morais problemas
específicos que deveriam ser enfrentados como questões de eficiência do setor
público, quando não há diferenças de vulto sobre os objetivos a alcançar, e sim
sobre as formas mais eficazes de fazê-lo”.
Como está longe de ser besta,
Pedro Malan não afirma, no título do artigo, que as convergências são
possíveis. Ele faz uma pergunta: “convergências possíveis?”.
A resposta para o
ser-e-não-ser-tudo-ao-mesmo-tempo-agora do ex-ministro se encontra no próprio
Estadão. Em editorial, o jornal critica o fato de os petistas quererem
conservar a todo custo — e bota custo nisso, digo eu — o controle sobre a
gestão do Bolsa Família, para “manter a sua freguesia cativa nas regiões mais
pobres do país”. Daí a resistência ao nome de Simone Tebet para ministra da Cidadania,
pasta que se ocupa de dar dinheiro aos necessitados. Páginas adiante, uma
reportagem mostra como os sindicalistas de resultados, colchão do berço
político do PT (o lençol são os tais movimentos sociais), querem “reorganizar o
seu custeio”.
Como está muito calor, sejamos
breves, Pedro Malan, porque a coisa toda é simples de ser entendida: não dá
para matar a fome dos pobres com a vontade de comer do PT e de toda essa gente
que quer salvar o Brasil. A tunga de dinheiro público é a única matriz econômica
nacional. Quanto mais cumbuca estatal, melhor para meter a mão.
*Marcos Sabino/Metrópoles
Domingo, 11 de dezembro 2022 às 12:04