A
advogada Nárcia Kelly Alves da Silva, de 28 anos, tem um sonho: ser prefeita de
Bela Vista. Não será fácil: o prefeito Eurípedes José do Carmo, bem avaliado
pelo eleitorado, banca outro nome — Vanderlan Celso e Silva. Em comum entre
Nárcia e Vanderlan os prenomes iniciados com consoantes e o Silva do sobrenome.
E só. Nárcia simboliza a modernidade, o futuro capturado pelo presente,
enquanto Vanderlan simboliza a tradição, o futuro controlado pelo passado.
Nárcia
Kelly é vice-prefeita de Bela Vista, mas, dado seu posicionamento independente
e crítico, não é bem-vista por Eurípedes do Carmo. Pré-candidata a prefeita
pelo PTB, planeja uma campanha espartana e, sobretudo, não quer incomodar as
pessoas que trabalham, se divertem e descansam. Sua campanha não terá carreatas
— que geram engarrafamentos, acidentes e custam caro (quase sempre é preciso
pagar o combustível dos veículos dos motoristas) —, carros de som (são
detestados pelas pessoas), foguetes (“que assustam as pessoas, notadamente
crianças e idosos”) e comícios. Numa visita à redação do Jornal Opção, na
semana passada, acompanhada do jornalista Nilson Gomes, Nárcia Kelly disse que
prefere conversar com as pessoas, visitando-as em suas próprias casas e
organizando pequenas reuniões nas quais pode expressar seu pensamento e ouvir o
que as pessoas dizem. “Aprecio falar diretamente com as pessoas, sabendo seus
nomes e escutando o que de fato querem.” Por ter militado como cooperativista —
sua família é produtora de polvilho —, aprecia ouvir, e cuidadosamente, o que
dizem os indivíduos. “Estou elaborando um plano de governo a partir do que ouço
diariamente e o povo sempre tem ideias interessantes.”
Preocupada
com a democracia em Bela Vista, com a construção de uma gestão para todos, não
só para grupos ou guetos políticos, Nárcia Kelly frisa que, se eleita, pretende
fazer uma administração eficiente e criativa. “Um dos meus objetivos é atender
bem a sociedade em todas as áreas e atender os cidadãos de maneira integral e
sem discriminações políticas e ideológicas.”
Em
maio de 2014, quando o prefeito Eurípedes do Carmo viajou para Paris com a
família, Nárcia Kelly assumiu a gestão de Bela Vista. Ao tentar colocar ordem
na casa, democratizando o atendimento na prefeitura, começou a ser sabotada por
um grupo de aliados do prefeito. Com coragem e respeitando as leis, a jovem
demitiu dois secretários — um deles Vanderlan Celso e Silva, visto pela
sociedade de Bela Vista como uma espécie de primeiro-ministro — e o procurador
da prefeitura. Foi um deus-nos-acuda. Os demais secretários, mesmo o que não
queriam, foram obrigados a pedir demissão, como uma maneira de travar a gestão
da prefeita interina. O prefeito voltou “correndo” de Paris — mal teve tempo de
curtir a Torre Eiffel e comprar suvenires — e reassumiu, apavorado. É que o
povo estava começando a apreciar a gestão democrática, popular e exigente de
Nárcia Kelly. Consta que Eurípedes do Carmo não teme nenhum político de Bela
Vista — exceto a coragem e a disposição da garota que é “amada” pela população.
Vocacionada
para a política, embora não tenha paixão pelo poder — sobretudo, o poder pelo
poder —, Nárcia Kelly foi eleita vereadora, em 2008, com a maior votação da
história de Bela Vista, surpreendendo seus adversários e, mesmo, seus aliados.
Ela tinha apenas 20 anos. “Acredito numa forma de fazer política, na qual o
interesse público sobrepuje o interesse particular, de grupos. Fala-se que os
recursos são escassos e, de fato, são. Mas, se bem aplicados e sem que se
desvie dinheiro público para fins particulares, são suficientes para atender
bem a sociedade.”
Além
de montar um conselho político, Nárcia Kelly está caminhando pela cidade com os
pré-candidatos a vereador que a apoiam. “Digo sempre a eles: não temos recursos
financeiros, mas temos ideias e identidade com as pessoas do município.
Política, para mim, é a arte do diálogo com a população. Se eleita, quero e vou
ser funcionária do povo. Um de meus trabalhos, ao contatar as pessoas, é reunir
as famílias. As famílias sabem o que é melhor para todos, não só para
indivíduos isolados.”
Como
seus recursos financeiros são parcos, Nárcia Kelly trabalha, de maneira
coordenada e competente, nas redes sociais. “Tenho mais de 13 mil seguidores e,
o que é mais importante, mantenho de fato uma interação com eles. Não se trata
de um contato proforma. Uso o Facebook para entrar em contato com várias
pessoas, notadamente os jovens. É um canal de debate político instrutivo e
eficiente. As pessoas de Bela Vista apreciam debater política.”
Para
disputar uma eleição contra um máquina relativamente azeitada, como é a montada
pelo prefeito Eurípedes do Carmo, Nárcia Kelly sabe que não bastam boas ideias.
Por isso está procurando formatar uma aliança política substantiva. “Hoje, com
o apoio de vários políticos, como o deputado federal Jovair Arantes,
conseguimos montar uma frente com o apoio de quatro partidos — PTB, PV (Guido
Juliano), PTN (João Firmino) e PMN. Mas estamos conversando com líderes de
outros partidos, como PTC, PSDB, PP e PDT. Tenho apoio de alguns segmentos
organizados.”
O
bisavô de Nárcia Kelly, Antônio Batista, era um lavrador simples, mas de visão.
Casado com Etelvina Batista, ele comprou terras na região de Bela Vista e,
enquanto os homens fabricavam tijolos, as mulheres faziam polvilho. Aos poucos,
organizaram a bem-sucedida Cooperativa do Cará (produção de polvilho e
farinha). Poucos, organizaram a bem-sucedida Cooperativa do Cará (produção de
polvilho e farinha).
(Fonte:
Jornal Opção online)
Domingo,
21 de fevereiro, 2016
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