Era só o que faltava, diria o
Barão de Itararé. Já esquecido dos 580 dias que passou na cadeia, por ter
montado o maior esquema de corrupção do mundo e colocado o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a serviço das empreiteiras em
obras no exterior, o presidente Lula da Silva resolveu repetir a dose.
Em Buenos Aires, durante
encontro com empresários brasileiros e argentinos, anunciou na segunda-feira
(23/01) que o BNDES vai “voltar a financiar as relações comerciais do Brasil e
projetos de engenharia no exterior”.
Segundo a repórter Sylvia
Colombo, da Folha, que acompanha a visita presidencial à Argentina, mais cedo
Lula já havia afirmado que o financiamento de obras na América Latina pelo
BNDES seria um “motivo de orgulho” para o Brasil, que a seu ver tem o dever de
ajudar os países vizinhos.
Disse ainda que, se os
empresários brasileiros mostrarem esforço, as condições para a construção de um
gasoduto entre Brasil e Argentina poderão ser criadas.
“Tenho certeza que os
empresários brasileiros têm interesse no gasoduto, nos fertilizantes que a
Argentina tem, no conhecimento científico e tecnológico da Argentina. E se há
interesse dos empresários e do governo, e nós temos um banco de desenvolvimento
para isso, vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente
possa fazer para ajudar no gasoduto argentino”, assinalou.
Ajudar as empreiteiras
brasileiras a fazer obras no exterior é uma boa política, claro, mas desde que
não cause prejuízos ao Brasil, como aconteceu no Porto de Mariel, em Cuba, cuja
construção foi feita pela Odebrecht com financiamento do BNDES e o pagamento
era o trabalho de médicos cubanos no lugar dos brasileiros. Outras importantes
obras foram financiadas na Venezuela e em Moçambique —que também deram calote
nos pagamentos.
Como acentuou a repórter
Sylvia Colombo. a atuação do banco de fomento no exterior foi alvo de críticas
de opositores nas gestões petistas e agora durante a campanha eleitoral.
Os calotes de Cuba, Venezuela
e Moçambique estão sendo pagos pelo Fundo de Garantia à Exportação, cujo
patrimônio inicial foi constituído mediante a transferência de 98 bilhões de
ações preferenciais do Banco do Brasil S.A. e 1,2 bilhão de ações preferenciais
da Telebrás.
Em tradução simultânea, as
empreiteiras e os exportadores não têm risco. Se o país vizinho não pagar, a
União arca com o prejuízo. Cuba não tinha a menor condição de financiar mais de
957 milhões de dólares, mas Venezuela e Moçambique poderiam dar como garantia
sua produção de derivados de petróleo que o Brasil importa. Mas quem se
interessa?
Agora, o generoso e audacioso
Lula da Silva vai repetir a dose, pois o acordo prevê abertura de crédito para
importadores argentinos e criação de um fundo pelo governo brasileiro para
garantir o pagamento dos empréstimos, conforme anunciou o despreparado ministro
da Fazenda, Fernando Haddad:
“O Banco do Brasil não vai
tomar risco nenhum com essa operação de crédito de exportação. Nós vamos ter um
fundo garantidor, que é um fundo soberano, que vai garantir as cartas de
crédito emitidas pelo BB para os exportadores brasileiros”.
As irresponsáveis falas de
Lula e Haddad, é claro, derrubaram as ações do Banco do Brasil. As transações
entre os dois países não podem ser em peso ou real, mas em moeda forte. Motivo:
além do calote, há o problema da desvalorização do peso, que é maior do que a
do real. Mas isso também não é problema…
Segundo o neoeconomista
Haddad, a perda a ser sofrida pelo Banco do Brasil será coberta pelo Fundo
Garantidor de Exportações. É genial! Ou bestial! como dizem os portugueses.
O duo Lula/Haddad sonha (?) em
conseguir que, a cada operação, o governo argentino ofereça garantias
colaterais com liquidez internacional — que podem ser títulos da dívida de
países estáveis ou contratos futuros de venda de commodities, por exemplo. Mas
acontece que a Argentina está quebrada, o que até as mães da Praça de Mayo
sabem, mas Lula e Haddad ignoram.
*Carlos Newton
Terça-feira, 24 de janeiro 2023
às 13:59