A
filosofia distingue entre a ética descritiva e a normativa. Enquanto a primeira
se limita a arrolar as crenças morais das pessoas, a segunda tenta estabelecer
se essas crenças se justificam à luz de princípios que permitam classificá-las
em termos de certo e errado.
Como
filósofos têm imaginação fértil, há desde sistemas baseados no cálculo da
felicidade até os que se fundam na religião. Um dos favoritos é a chamada regra
de ouro, segundo a qual não devemos fazer ao próximo aquilo que não desejaríamos
que ele nos fizesse. Surgem assim normas morais invioláveis como não roubar,
não mentir, pôr o interesse público acima dos particulares etc. O princípio é
tão popular que já foi sequestrado por religiões tão diversas quanto
cristianismo e budismo e por filósofos do calibre de Kant.
A
aplicação da regra de ouro ao cenário político brasileiro recomendaria desistir
do país. Ao que tudo indica, o governo acuado pela ruína econômica e por
infindáveis denúncias de corrupção está em vias de fechar um acordo com o
presidente da Câmara, ele próprio enredado em acusações de corrupção. Se os
relatos de bastidores são precisos, parlamentares da base governista livrariam
a cara do chefe dos deputados no Conselho de Ética em troca de ele segurar os
trâmites que poderiam levar a um processo de impeachment contra a presidente da
República. Como a oposição calcula que não pode dispensar as boas graças do
ilustre parlamentar, também evita contrariá-lo.
Ninguém
admite nada disso, pois fazê-lo equivaleria a confessar que um bom naco das
normas morais supostamente invioláveis estão sendo violadas. Uma alternativa
seria trocar a regra de ouro por éticas mais realistas, como o
consequencialismo, segundo o qual ações devem ser julgadas pelos resultados que
acarretam. Mas, neste caso, a emenda fica pior que o soneto, pois são as
disputas entre políticos que estão magnificando a crise econômica.
Hélio Scwartsman
Sábado,
17 de outubro, 2015
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