Nesta
eleição, além de registrar os candidatos escolhidos pelos eleitores, a urna
eletrônica encara uma outra luta: ganhar votos, de confiança, para si própria.
Em
seu 12º pleito no Brasil, a máquina de votar se vê envolvida num duelo entre os
que defendem a segurança do equipamento e os que acreditam em fraude. No meio
disso, está a discussão de volta para o voto impresso.
Nos
últimos meses, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) garantiu reiteradamente que
o sistema é devidamente protegido contra eventuais ataques e tentativas de
corrupção do resultado da votação. Entre os argumentos, cita que, em 22 anos de
urna eletrônica, nunca foi detectada fraude.
São
ainda elencadas medidas de defesa adotadas. Entre as barreiras estão a
biometria, uma votação paralela que testa urnas aleatórias, criptografia, os
testes públicos de segurança da urna e a ausência de conexão com a internet -o
que eliminaria as chances de uma ofensiva remota.
O
código-fonte (conjunto de letras e símbolos que dizem ao sistema como ele deve
funcionar) dos equipamentos fica disponível por seis meses, antes da eleição,
para inspeção de partidos e de especialistas.
A
gravação desse código em cartões e a instalação deles nas máquinas de votar são
feitas em cerimônias públicas, que podem ser acompanhadas por qualquer cidadão.
No
processo, as urnas são lacradas. Com isso, uma adulteração –seja acoplando um
aparelho externo a ela ou modificando seus cartões de memória –não poderia ser
feita sem a violação do lacre, o que revelaria a tentativa de fraude. Nesse
caso, um juiz eleitoral analisa a situação e pode até anular os votos da seção.
Bolsonaro lançou dúvidas
A
lista de medidas contra eventuais ataques, que tem outros itens, não impediu o
presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) de, em 16 de setembro, divulgar vídeo em
que colocava em dúvida a lisura do processo eleitoral.
Assim,
cresceu a discussão sobre a capacidade da urna de garantir um pleito íntegro.
Na
reforma da legislação eleitoral de 2015, Bolsonaro propôs uma emenda que
instituiu a impressão do voto na eleição. Em junho, a emenda foi suspensa pelo
Supremo Tribunal Federal e não estará em vigor nas eleições, inclusive em 2018,
pelo menos até ter o mérito julgado pela corte.
O
candidato, seus apoiadores e especialistas em segurança digital defendem essa
medida como forma de auditar os resultados e garantir mais transparência ao
processo.
Funcionaria
assim: além de registrar o voto no sistema, a urna imprimiria e exibiria para o
eleitor checar, por trás de uma proteção, um papel com a informação coletada.
Esse registro ficaria armazenado para posterior auditoria –a pessoa não o
levaria para casa.
Se
os votos guardados nos papéis batessem com os do registro digital, ou seja, os
anotados pelo sistema da máquina, ótimo. Caso contrário, seria um indicativo de
fraude.
Para
o TSE, o processo atual é suficientemente seguro. A impressão, diz, acabaria
por torná-lo mais vulnerável, por ser mais suscetível a fraudes. O tribunal
cita ainda a possibilidade de complicações como problemas na impressora e o
fato de o canhoto não ser acessível a deficientes visuais.
Auditoria garantiu lisura
As
eleições podem ser auditadas a pedido do Ministério Público, da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) ou dos partidos. Em 2014, o PSDB pediu uma auditoria nas
urnas após o então candidato Aécio Neves ser derrotado no pleito presidencial.
Não foram encontradas fraudes.
Entre
os 556 mil equipamentos que serão usados na eleição, estão sete modelos
diferentes da máquina, que tem vida útil de até 12 anos. Todos foram fabricados
pela americana Diebold, seguindo especificações técnicas do TSE.
Para
o secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, a evolução
constante a que a urna está submetida ajuda a garantir a segurança do pleito.
“Seria
muito fácil [hoje] atacar a urna de 1996. Nosso desafio é estar sempre na
frente.”
Para
isso, desde 2009, o TSE promove os TPS (Testes Públicos de Segurança), eventos
em que profissionais de segurança da informação tentam encontrar defeitos nas
defesas da urna e depois as relatam.
Diego
Aranha, professor da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, defende o voto
impresso para dar transparência à eleição. Segundo ele, as vulnerabilidades da
urna oferecem risco, mas isso não significa que necessariamente se tornem
fraude na prática.
“Para
isso acontecer, vale a lógica econômica do custo/benefício para o fraudador,
que torço para ser mais benéfica na tradicional compra de votos e mesários para
votar por eleitores faltosos. ”
(FolhaPress)
Sábado,
06 de outubro, 2018 ás 09:00
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