Ex-diretor da Interpol no Brasil, o
delegado da Polícia Federal aposentado Jorge Barbosa Pontes tem sido um ávido
combatente da corrupção e tece duras críticas ao governo do PT, que ficou no
poder por 13 anos. Na semana passada, o investigador depôs na comissão que
analisa medidas contra a corrupção, na Câmara dos Deputados, e declarou que a
Operação Lava Jato mostrou que nos encontramos, no Brasil, diante de um 'novo
animal' da criminologia, que ele denominou 'crime institucionalizado'.
Pontes, que se formou como policial no
FBI (Polícia Federal dos EUA), discorreu sobre as diferenças entre o crime
institucionalizado e o crime organizado, pontuando cada uma delas, e explicou
que o institucionalizado representa, para a polícia e o Ministério Público, uma
ameaça muito mais complexa do que qualquer forma de crime organizado.
Segundo a tese do delegado, tais
esquemas teriam sido selecionados - provavelmente por sua lucratividade - e
deslocados e unificados no centro do poder, por intermédio da Casa Civil, em
razão de suas atribuições - de escolha e vetos de nomes para nomeações em
funções estratégicas - e da sua proximidade com a presidência (Palácio do
Planalto).
"E foi exatamente quando diversos
desses pontos preexistentes de corrupção, em ministérios e empresas públicas
como Correios, Petrobras, etc, foram levados deliberadamente para a Casa Civil
da Presidência da República. Assim estaria nascendo o crime
institucionalizado", declarou.
Pontes também chamou a atenção para o
fato de que ex-ministros-chefes da Casa Civil do período petista são alvos de
processos criminais, e completa: "não é à toa que José Dirceu encontra-se
preso por sua participação tanto no Mensalão como no Petrolão, que nada mais
eram do que duas rodas da mesma grande engrenagem criminosa".
O Diário do Poder entrevistou o
delegado. Na conversa, Jorge Pontes declarou que se fosse diretor-geral da PF
transformaria a Lava Jato é uma divisão da instituição, assim, sem prazo para
acabar e com investigações contínuas. Na ideia do delegado, a divisão teria
projeção no Nordeste, em Brasilia e no Sudeste.
Confira na íntegra:
Corrupção
Hoje eu tenho a percepção de que se
não houver combate a corrupção, tudo será corroído em relação ao 'projeto
Brasil'. A corrupção está na raiz de todos os males, como hospitais, saguão,
fila, falta de professor, assalto em uma esquina... Em cada item existe
corrupção, fraude nisso ou naquilo. Eu, por ser pessoa com visão do governo de
dentro, desenvolvi essa percepção. E estou falando isso, que só agora está em
evidência, há pelo menos quatro anos.
Não tem nada mais importante a ser
combatido no Brasil que não seja a corrupção. Principalmente a corrupção na
administração pública, contratos, construções e grandes obras. Vejo isso como
principal. O Brasil está gastando dois 'brasis' para sustentar um Brasil.
Lava
Jato
Eu acho a Lava Jato redentora em
vários aspectos, sobretudo um diagnostico. Tem mais poder de diagnóstico. Ela
vai implodir todos os esquemas as quais investiga, mas ela não tem o poder de
transformar esse sistema corrupto que a gente está percebendo. O que a operação
tem de melhor é inspirar a sociedade brasileira a mudar. O brasil está sendo
roubado justamente por quem deveria administrar. O estranho é que as primeiras
reações do Executivo foram contra a Lava Jato, para alvejar a PF, o MPF, juiz
Moro e seus resultados, quando na verdade teria que ser ao contrário.
A
Lava Jato tem prazo de validade?
Como os esquemas de corrupção são
muito grande, é difícil dizer quando vai acabar. E difícil saber o que vai
descobrir numa busca. Não tem como saber. As buscas e apreensões podem dar
origem a mais fases. Se eu fosse chefe da PF a Lava Jato seria uma divisão, com
projeção no Nordeste, em Brasilia e no Sudeste, para ter um trabalho continuo.
Ela seria estabelecida dentro do organograma da PF. Não seria apenas uma
investigação.
Autonomia
da PF
É um projeto Importantíssimo, pois é
uma das únicas formas de nos blindar contra a política e contra interferências.
Assim haveria mandato de quatro anos para o cargo de diretor-geral e ele não
poderia ser exonerado simplesmente por ordem de algum político. A autonomia
nada mais é do que uma proteção.
Você acha que um governo como o do PT,
envolvido nas investigações e até um ex-presidente alvo, não ficava de orelha
em pé em relação ao nosso trabalho? Eu tenho certeza que o governo do PT ficava
em cima da gente.
Briga
delegados x procuradores
Os procuradores são contra a nossa
autonomia porque existe uma quebra de braço que está sendo mal administrada
pelos dois lados, PF e MPF. Os dos órgãos têm que trabalhar de maneira
conjunta. As rugas sempre vão existir por vaidade, mas não podemos deixar isso
sobressair.
As duas instituições disputam a
titularidade das investigações, quem e a responsável etc. Mas a PF nunca terá
papel secundário nas investigações dos crimes federais. Sempre protagonizará as
investigações e as ações repressivas relativas a estes crimes. Nenhum outro
órgão conseguirá colocar a PF numa posição que não seja de protagonista, porque
nós somos a policia judiciaria da União.
Porém, o estado de degradação e o
nível de corrupção do pais não recomenda que nenhum órgão tenha o monopólio da
investigação. Eu sou a favor do MP investigando.
O
Brasil tem salvação diante de tanta corrupção?
De quatro em quatro anos a gente tem a
chance de salvar o Brasil. Tem que nascer uma liderança política que invista em
educação. São as eleições. A sociedade tem que estar a par do que está
acontecendo, a partir da escolha dos melhores representantes.
Quarta-feira, 19 de outubro, 2016
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