O
presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, dia 9, que “por enquanto”
permanecerá no PSL e comparou a crise no partido a uma “briga de marido e
mulher”. Bolsonaro deu a declaração ao conceder uma entrevista coletiva na qual
foi questionado sobre a crise envolvendo o partido ao qual é filiado desde o
ano passado.
Nesta
terça-feira, dia 8, o presidente disse a um apoiador para “esquecer” o PSL, o
que provocou a reação de integrantes da legenda no Congresso Nacional. “Por
enquanto, eu continuo [no PSL]. Não tem crise. Briga de marido e mulher, de vez
em quando acontece. O problema não é meu. O pessoal quer um partido diferente,
atuante. O partido está estagnado. Não tem confusão nenhuma”, afirmou o
presidente.
SAÍDA
PELA ESQUERDA – “Falei para o garoto: ‘Esquece o PSL’. Por quê? Ele é
pré-candidato a vereador e, se começar a falar em partido, é campanha
antecipada. Isso que eu falei para ele”, acrescentou. Bolsonaro concedeu uma
rápida entrevista coletiva ao deixar o Palácio do Planalto em uma saída
lateral, geralmente não utilizada pelo presidente da República, somente por
convidados e funcionários.
Antes
de conceder essa entrevista, Bolsonaro se reuniu no Planalto com deputados do
PSL. Cerca de uma hora depois da entrevista do presidente, o porta-voz de
Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, afirmou que ele “não pretende deixar o PSL de
livre e espontânea vontade”.
FUSÃO
– Apesar disso, Bolsonaro já estuda alternativas para sair do PSL e, como plano
principal, aposta na fusão do Patriota com outro partido de menor expressão. O
núcleo duro do presidente considera que, dessa forma, será possível que
deputados do PSL migrem para a nova legenda sem o risco de perder o mandato.
O
senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) têm
conversado com dirigentes de outros partidos e avaliam que a fusão é a solução
mais rápida, uma vez que dispensa o recolhimento de assinaturas para a
oficialização.
“Quando
duas legendas se fundem, aos olhos da Justiça Eleitoral é como se surgisse um
novo partido. Com isso, deputados poderiam vir para essa legenda sem
necessidade de aguardar a abertura da janela de transferência. A criação de um
novo partido, sem fusão, demoraria cerca de um ano, e não podemos esperar. No
ano que vem, já temos eleições municipais”, disse um aliado de Bolsonaro,
projetando que a fusão levaria entre três e seis meses e que, apesar de
incorporar uma legenda, o Patriota continuaria com o mesmo nome.
GARANTIA
– Bolsonaro admitiu a deputados em reunião nesta quarta-feira que está decidido
a sair da legenda, mas que primeiro quer uma garantia jurídica para que os
deputados que o acompanhem na desfiliação ao PSL não percam seus mandatos e que
a Justiça possa também congelar os recursos partidários do PSL.
Entre
as opções estão a criação de um novo partido, como a UDN, que está prestes a
ser criada, ou como o Conservadores, cujo estatuto está sendo produzido por
integrantes do PSL, mas que levaria um tempo maior até ser viabilizado porque
ainda precisa recolher assinaturas de apoio.
RESSALVAS
– Presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso afirma que o partido está
aberto à fusão para receber Bolsonaro, mas vê a articulação com ressalvas. “Se
houver fusão, o próprio grupo do Bolsonaro escolherá o partido com o qual
iremos nos fundir. O Bolsonaro está ciente de que o Patriota o ama. Estamos com
ele desde que tinha 5% (de intenção de voto em pesquisas). Mas acho que,
juridicamente, a fusão não é suficiente para permitir a entrada de políticos
com mandato”, disse Barroso.
Uma
resolução de 2007 do Tribunal Superior Eleitoral permitia a entrada imediata de
políticos com mandato em partidos recém-criados ou fundidos, mas uma lei de
2015 estabeleceu novos critérios e passou a vedar a prática.
STF
– Um processo movido pela Rede, que pede a revisão da lei, está em análise no
Supremo Tribunal Federal (STF). A então procuradora-geral da República, Rachel
Dodge, se manifestou, em abril de 2018, a favor da Rede no processo, mas o
plenário do STF ainda não julgou o mérito da questão.
“Mesmo
se não houver a fusão, o Patriota está aberto para receber o Bolsonaro. O
senador Flávio pode vir sem problemas, já que se elegeu para um cargo
majoritário. Já o deputado Eduardo pode argumentar na Justiça que, pela
expressiva votação que recebeu, elegeu-se sozinho, sem necessidade dos votos
dos demais candidatos do PSL. Isso também o torna dono de seu mandato”,
argumentou Barroso.
TEMOR
– Em 2017, Bolsonaro quase selou a ida para o Patriota, mas foi demovido da
ideia por Gustavo Bebianno, que, insatisfeito com o partido, levou o então
candidato à Presidência para o PSL. Bolsonaro cedeu ao apelo de Bebianno por
temer que, depois de se filiar ao Patriota, Barroso não levasse sua candidatura
adiante e negociasse o apoio do Patriota a um presidenciável de outro partido.
“Como
garantia de que isso não aconteceria, assinei um documento me comprometendo a
seguir com a candidatura do Bolsonaro. E ofereci a Presidência nacional do
partido ao Flávio Bolsonaro, como prova maior da minha intenção. Estive com o
Bolsonaro meses atrás e disse a ele que, quem sabe um dia, estaríamos juntos.
Talvez essa hora tenha chegado”, disse Barroso.
Fontes
do O Globo afirma que, na ocasião, em 2017, Bolsonaro e Flávio chegaram a se
desentender: o presidente queria ir para o PSL; o senador, para o Patriota.
Siglas como o PHS e PMN são cotadas para eventual fusão com o Patriota. (G1)
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