O
professor da Universidade de Brasília (UnB) Mario Diniz de Araújo Neto,
especialista em assuntos hídricos, disse que a educação é a chave para evitar a
crise hídrica no Distrito Federal (DF). “Não adianta multar, aumentar a conta,
as pessoas se ajustam. É fundamental começar com a questão da educação na
escola, tanto na rede pública quanto privada. A criança tem um poder muito
grande de sensibilizar os adultos e será o adulto de amanhã", acrescentou.
Pela
primeira vez no DF, começa hoje (17) um sistema de racionamento de água, que
vai afetar 1,8 milhão de habitantes. Para o professor, é necessário também
sensibilizar a população de usuários sobre como funciona o ciclo hidrológico na
região. "A mudança no uso, na
compreensão da população sobre a ameaça do uso inadequado da água é o que fará,
de fato, a diferença no sistema”.
Entre
as medidas anunciadas pelo governo do Distrito Federal para amenizar e
controlar a crise hídrica na região está o aumento da conta, com a tarifa de
contingência sobre o consumo. Além disso, serão estabelecidas restrições de
horários para captação de água por caminhões-pipa e a divulgação de orientações
para estabelecimentos comerciais, como lava-jato.
De
acordo com Neto, organismos internacionais definem a disponibilidade hídrica
segura para o ser humano de 5 mil metros cúbicos por ano. No Distrito Federal,
o índice chega a 1,5 mil metros cúbicos por ano. “A própria natureza, o regime
das chuvas no DF, já nos coloca esse limite. Essa questão de racionamento está
muito ligada à ocupação e ao uso irregular do solo, desmatamento, asfaltamento,
degradação de nascentes. Tudo isso aliado a um problema de gestão do governo
local”, afirmou.
O
professor citou o uso excessivo de água nos estabelecimentos comerciais para o
agravamento da situação da cidade, aliado ao uso inadequado pelos moradores.
“Os abatedouros de frangos retiram água de poços artesianos. Em média, se
produz 60 mil frangos por ano, cada um desses gastando 15 litros de água na
limpeza, por baixo”, diz. “O Lago Sul tem um gasto médio por habitante de 700
litros/dia, quando o normal é que se gaste cerca de 150 litros. O indivíduo vai
encher piscina, lavar calçada, é um uso perdulário da água. Nós não vamos
conseguir mudar o regime hídrico da região dessa forma”.
Abastecimento
O
Distrito Federal é abastecido por dois diferentes sistemas: 85% da população
têm água de dois reservatórios, o do Descoberto e o de Santa Maria, e os outros
15% e parte dos produtores agrícolas recebem diretamente de, pelo menos, cinco
córregos.
O
nível do reservatório da Barragem do Descoberto, abaixo de 20%, e o índice de
chuvas menor do que o esperado em dezembro e janeiro levaram a Agência
Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa-DF)
e a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) a adotar o racionamento.
A
medida será em ciclo de seis dias: um dia com interrupção completa, dois dias
de estabilização e três de fornecimento normal. Na fase de estabilização, a
água retorna ao consumidor gradativamente. Para evitar riscos de rompimentos da
tubulação, o fluxo da água é religado de forma gradual, até o completo
preenchimento das redes. No sétimo dia, o corte de abastecimento é retomado.
As
áreas afetadas serão Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia, Gama, Guará,
Núcleo Bandeirante, Park Way, Recanto das Emas, Riacho Fundo 1 e 2, Santa
Maria, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires.
Além
da interrupção do fornecimento de água, moradores do DF terão a pressão da água
reduzida, a partir de 30 de janeiro, na região abastecida pelo reservatório de
Santa Maria. De acordo com a Caesb, esse reservatório está com nível de água em
torno de 40%. Estão inseridos nessa área o Plano Piloto, Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal,
Lago Sul, Lago Norte, Paranoá, Varjão, Itapoã e Jardim Botânico.
De
acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média do índice
pluviométrico no DF em janeiro é de 225 milímetros (mm). Nos dez primeiros dias
de 2017, foram registrados 19 mm. Segundo a Caesb, a captação foi reduzida de
5,1 mil litros por segundo para 4,4 mil litros por segundo com a diminuição da
pressão. O rodízio no abastecimento tem o objetivo de diminuir mais 10% dessa
captação para preservar a Barragem do Descoberto no período de seca.
População
Para
Rayssa Oliveira, moradora de Samambaia, será preciso um preparo para se
acostumar com a medida. “É difícil, pois não estamos acostumados com essas
medidas que estão sendo tomadas. O racionamento influenciará, de certa forma, a
rotina de todos. Teremos que nos preparar para aprender a lidar com uma
quantidade de água mínima durante os nossos dias”, disse.
Ricardo
Vaz, morador de Taguatinga Sul, considera que o desperdício ao longo do ano é a
razão do racionamento. “É difícil imaginar que em uma época de chuva, temos que
racionar água. Isso, provavelmente, acontece porque a água é frequentemente
desperdiçada ao longo do ano. Sempre tive consciência do uso e reaproveitamento
da água, então, é mais fácil estar preparado para isso”.
Vaz
disse ainda que depende da consciência de outros para que isso não afete sua
rotina. “Moro em apartamento, e a água da caixa é compartilhada. O que me
preocupa não é o que eu gastarei, mas o que os outros inquilinos gastarão. Isso
pode atrapalhar o funcionamento do prédio como um todo. Precisamos de água pelo
menos para o básico (beber, cozinhar, tomar banho) e, se der, para lavar
roupa”.
Aline
Melo, moradora de Samambaia Sul, lembrou que é preciso maior controle quando se
tem crianças. “Acredito que estou preparada para essa realidade. Sempre fomos
conscientes em casa, mas com crianças é mais difícil controlar”.
Segunda-feira,
16 de Janeiro de 2017
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