Um
ex-executivo da Odebrecht relatou em delação premiada ao Ministério Público
Federal uma operação de contrainteligência em Antígua, com pagamento de propina
a ser destinada ao primeiro-ministro da ilha. A intenção era evitar o envio de
documentos do banco usado pelo Setor de Operações Estruturadas – o departamento
da propina da empreiteira – para o Brasil.
Relatório
do Departamento de Justiça americano divulgado nesta quarta-feira, 21, confirma
o relato sobre a ação na ilha do Caribe para barrar o compartilhamento de
informações com a Lava Jato, mas sem detalhes sobre quem era o destinatário do
recurso ou mesmo sobre os executivos que participaram do acordo para o
pagamento “não oficial”.
Segundo
o jornal O Estado de S. Paulo, em negociação de delação premiada, o executivo
Luiz Eduardo Soares contou aos investigadores que o acerto foi feito no segundo
semestre de 2015 e a propina seria destinada ao primeiro-ministro da ilha.
Desde 2014 o cargo é ocupado por Gaston Browne.
Soares,
conhecido na Odebrecht como “Luizinho”, participou em agosto de 2015 de uma
reunião em Miami, nos Estados Unidos, com um lobista de Antígua chamado James
Caswey. Os dois iniciaram uma negociação. O objetivo era intervir para que o
primeiro-ministro não atendesse ao pedido da Lava Jato de cooperação
internacional.
O
lobista inicialmente teria pedido US$ 4 milhões, mas por fim ficou acertado o
pagamento de três parcelas de ¤1 milhão.
O
contato com o lobista foi intermediado por Luiz França, um dos três
administradores do Meinl Bank Antigua, com sede na ilha. A instituição bancária
tinha a Odebrecht como sócia e era usada para pagamento no exterior a empresas
offshores que intermediavam e recebiam a propina da empreiteira.
Executivos
ligados à Odebrecht chegaram a participar de uma reunião com o
primeiro-ministro de Antígua sobre o assunto, no segundo semestre de 2015, mas
o mandatário afirmou que tudo deveria ser resolvido com Caswey.
Segundo
Soares, também participou da reunião Olívio Rodrigues Júnior, outro
ex-executivo da Odebrecht, responsável por operar contas no Meinl Bank. Soares
e Rodrigues Júnior cumpriam desde março prisão preventiva em Curitiba, mas
foram liberados em decorrência do acordo de delação e por decisão do juiz
Sérgio Moro.
Soares
disse aos investigadores que os pagamentos ao lobista foram autorizados por
Fernando Miggliacio – apontado como controlador de offshores da Odebrecht no
exterior. Para isso, foi usada a conta Global Residency and Advisory Services
Ltd, no Global Bank Antigua. O dinheiro saiu da offshore Ultra Sky Corporation
Limited.
Documentos
do departamento americano reforçam a narrativa de Soares. Segundo o órgão, em
“meados de 2015”, um “funcionário da Odebrecht” participou de uma reunião em
Miami com um “intermediário” de uma autoridade de “alto nível” do governo de
Antígua para “esconder atividades de corrupção” da empreiteira, com informações
sobre o valor acertado. Sem dar detalhes, a Procuradoria-Geral da República
afirma que Antígua atualmente colabora com a Lava Jato.
Provas
Os
investigadores americanos descobriram que a Odebrecht destruiu provas para
dificultar o avanço da Lava Jato. “Depois que a Odebrecht tomou conhecimento da
Lava Jato e de investigações correlatas, certas pessoas – incluindo
funcionários e executivos envolvidos no Setor de Operações Estruturadas –
tomaram medidas para esconder ou destruir evidências de atividades criminosas e
para dificultar as várias investigações”, diz o documento.
Uma
das medidas foi a instrução dada por um funcionário da Odebrecht para que
empregados destruíssem registros que pudessem revelar atividades ilegais.
Conforme o documento, por volta de janeiro de 2016, funcionários e agentes
destruíram “intencionalmente” chaves físicas de criptografia necessárias para
acessar um software chamado MyWebDay, que teria sido usado para gerenciar a
contabilidade das propinas. (AE)
Quinta-feira,
22 de dezembro de 2016
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