Poucas atividades refletem tão bem o estágio
de evolução do espírito humano como o comércio. Pense no quanto o aparentemente
banal ato de comprar e vender traduz a cultura e a filosofia de todo um povo!
Dia
desses, por exemplo, soube de uma interessante promoção oferecida por uma
concessionária de veículos norte-americana: compre um carro e leve de presente
um fuzil AK-47 novinho e pronto para usar. O curioso é que esta ideia deu
resultados: segundo o proprietário do estabelecimento, houve meses em que
chegaram a vender uns 35 veículos além da média!
Para
que não se diga ser esta uma ideia absolutamente isolada, uma pizzaria
norte-americana anunciou descontos para clientes que exibissem suas armas no
estabelecimento. É isso mesmo: descontos para quem fosse comer pizza armado. A
promoção foi um sucesso, com 80% dos clientes aderindo, e registrou-se
inclusive o caso de um cidadão que foi lá saborear a culinária italiana
portando um fuzil AK-47.
Por
falar em ofertas, que tal tatuar no braço, em letras garrafais e cor azul, o
nome de um famoso bordel alemão da cidade de Colônia? Em troca, o cliente
ganharia acesso vitalício ao estabelecimento, que tem 12 andares, 120
prostitutas, 80 empregados e mais de mil clientes por dia. Acredite: logo de
cara 40 pessoas se apresentaram!
Ainda
sobre prostíbulos alemães, outro deles, manifestando louvável preocupação com a
ecologia e o aquecimento global, concede um desconto de cinco Euros a quem por
lá comparecer a bordo de bicicletas ou via transporte público.
Há
também o caso da loja de calçados de Wenzhou, na China, que dá descontos para os fregueses que acertarem um sapato na
face do ex-presidente norte-americano George Bush, retratado em uma das
galerias. Segundo consta, tão logo a ideia foi anunciada verificou-se um
verdadeiro “estouro de manada” e, nos primeiros 30 minutos da promoção, foram
vendidos nada menos que 64 pares de sapatos - e centenas por dia, a seguir!
Enquanto
isso, lá em Washington (EUA), um restaurante decidiu premiar os clientes cujos
filhos apresentem bom comportamento à mesa. Chega a ser pitoresca a nota fiscal
emitida, na qual lê-se a expressão “crianças bem comportadas” seguida do valor
do desconto: US$ 4.
Já
que estamos a falar de restaurantes e de respeito a consumidores, um outro -
também norte-americano - decidiu conceder um desconto de US$ 3,50 a uma
consumidora que encontrou um fio de cabelo em sua alimentação. Foram mais
sovinas que um terceiro, daquele mesmo país, que “agraciou” um infeliz cliente
com um desconto de 25% na conta - por conta de ter sido encontrada na sopa o
‘cadáver morto de um inseto defunto’...
Longe
dali, na Itália, uma lanchonete anunciava um café expresso por precisos 3
Euros. Mas se o cliente pedisse “por favor”, este valor abaixaria para 2 Euros.
E se fosse pronunciada a raríssima expressão “bom dia” na entrada, a bebida
custaria apenas um Euro!
Estão
aí, nestes exemplos, e volto ao primeiro parágrafo deste texto, um razoável
retrato do momento cultural de diversos povos - talvez mesmo da humanidade! Da
agressividade à hipocrisia, da ganância ao cinismo, da angústia por uma maior
espiritualidade ao inconformismo com o egoísmo puro e simples, está aí, nas
entrelinhas destas notícias até pitorescas, a narrativa de muito do nosso
cotidiano. Daí, talvez, a genial exclamação de Horace Walpole: “a vida é uma
comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem”.
*****Pedro Valls Feu Rosa é
desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
Domingo,
10 de julho, 2016
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