É
duro ter que reconhecer, mas a crise política que nos atormenta, desde sempre,
tem, em nós eleitores, a sua fonte primária. Das urnas, fecundadas pelo voto de
cada cidadão, brotam os legítimos representantes da sociedade. Bons ou maus,
eles tomam posse do que receberam e com eles temos que seguir, mesmo
desconfiando de que o destino final dessa jornada acabe sempre onde começou.
Andamos
em círculos e de mãos vazias por vontade própria, escolhendo tipos bem
parecidos com nós mesmos. Gestamos, em cada eleição, quem, lá em frente,
desviará, sem remorsos, os recursos da saúde. E quando chega o inesperado, nós,
os eleitores, ou somos obrigados a suprir o vácuo deixado na Saúde e vamos
atrás de um plano, ou ficamos deitados em macas sujas e improvisadas nos
corredores superlotados dos hospitais à espera de um atendimento de emergência
que nunca chega, nem nos damos conta de que estamos naquela situação terminal
por nossos próprios atos cívicos.
Para
aqueles que conseguem escapar ilesos dos hospitais infectados e das ruas
assassinas, novas eleições virão e a oportunidade de repetir o mesmo gesto,
escolhendo os mesmos tipos, com raras exceções para que tudo permaneça do mesmo
jeito por gerações.
Somos
nossos próprios algozes. Dentro desse formato de sociedade que escolhemos como
ideal para todos, nem nos damos conta de que mudar a forma de se fazer política
é fácil. Difícil é começar essa mudança em nós mesmos. Nenhuma reforma política
coerente virá de nossos representantes, uma vez que recusamos essa mesma
reforma em nossos hábitos diários.
Lima
Barreto (1881-1922) dizia que o “Brasil não tem povo, tem público” para
justificar não só a apatia que demonstramos com relação à nossa própria
história, mas a indiferença de cada um com o destino de todos. É preciso
lembrar que todos os políticos que hoje se encontram encarcerados foram, um
dia, devidamente escolhidos e ungidos com o nosso voto. De certa forma somos
cúmplices passivos dessa gente.
Especialistas
em segurança pública defendem abertamente a tese de que a perpetuação das
facções criminosas em muitos redutos do país se deve, em parte, à colaboração
voluntária de parcela significativa de moradores locais. Cientes desse desdém
da população com relação ao destino do país, muitos políticos, mesmo carregando
nas costas inúmeros processos judiciais, por crimes vários, permanecem e se
lançam em campanhas pelo Brasil afora, certos da conivência de muitos
eleitores.
Ao
custo Brasil se soma a classe política atual, acrescenta-se parcela
significativa desse público que não se avexa em ter seu futuro roubado bem
diante dos próprios olhos e de todos. Talvez não seja por acaso que muitos
historiadores classificam o povo como sendo “uma porção de ninguém”.
Por
Circe Cunha
Sábado,
25 de novembro, 2017 ás 11hs40
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