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9 de setembro de 2018

Crime e silêncio


Na edição da semana passada, VEJA revelou os detalhes de um esquema de extorsão que esteve em operação no governo do Ceará até o fim de 2014. Funcionava assim: empresas que tinham créditos tributários a receber do governo estadual eram convidadas a fazer doações. Quem pagava recebia. Em acordo de delação premiada, executivos do grupo JBS contaram que em 2010 e em 2014, anos eleitorais, foram visitados pelo então governador Cid Gomes, que pedia dinheiro para a campanha, procedimento legal naquela época. O que acontecia na sequência é que nada tinha de legal. Assessores de confiança do governador apareciam e, sem meias palavras, anunciavam o achaque. Em 2010, a JBS deu 5 milhões ao grupo. Em 2014, 20 milhões, em troca de receber 97,5 milhões de reais em créditos tributários. Em delações, Wesley Batista confessou o crime.

Ciro Gomes, irmão de Cid e candidato à Presidência da República, sabia e participava de tudo, segundo acusação feita por Niomar Calazans, ex-tesoureiro nacional do Pros, o partido que abrigou os irmãos Gomes entre 2013 e 2015. De acordo com Calazans, o esquema ilegal de arrecadação para as campanhas no Ceará era coordenado pela direção local do partido, comandada por Ciro, Cid e seus aliados. O candidato do PDT, ainda segundo o ex-tesoureiro, negociou pessoalmente a “compra” do diretório cearense do Pros por 2 milhões de reais. Na sexta-feira 31, Ciro divulgou nota em que diz que vai processar o acusador e VEJA: “Nunca me envolvi em qualquer tipo de corrupção, ilegalidade ou imoralidade ao longo dos meus 38 anos de vida pública. Vou processar criminalmente essa revista moribunda e o tal entrevistado que está, flagrantemente, mentindo a serviço de interesses clandestinos, os quais irei descobrir”.

Na segunda-feira 3, numa sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, Ciro revelou que havia descoberto os atores dos “interesses clandestinos” publicados pela “revista moribunda”: o presidente Michel Temer e Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB ao Planalto. “Que tal vocês imaginarem que eles compraram uma matéria caluniosa na revista VEJA? Foram os dois juntos, o Temer e o Alckmin, todo mundo está sabendo”, disse. Não esclareceu quem era “todo mundo”, não explicou por que Temer e Alckmin se associariam quando andam às turras (veja reportagem) e ainda acrescentou uma asneira ao seu estilo: o Grupo Abril, que edita VEJA, estaria recebendo um financiamento de um banco oficial e, por isso, a revista inventou a história da extorsão.

Calazans informou que está à disposição das autoridades para depor. “Reafirmo o que eu falei: Ciro Gomes comprou o Pros no Ceará e sabia e participava dos esquemas de corrupção”, disse. Segundo ele, depois que pagaram 2 milhões para controlar o Pros, os irmãos Gomes montaram o esquema de financiamento clandestino. Sobre esse esquema — revelado com números, datas e valores —, Ciro Gomes nada explicou.

Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2018, edição nº 2599


Domingo, 09 de setembro, 2018 ás 07:00

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