O
empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo que leva seu
sobrenome, disse em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no início
de março, que o financiamento ilegal de campanhas é tão comum no País que
inclui todos os candidatos eleitos. “Duvido que tenha um político no Brasil que
tenha se eleito sem caixa 2. E, se ele diz que se elegeu sem, é mentira, porque
recebeu do partido. Então, impossível”, afirmou.
As
declarações constam do depoimento prestado na ação que apura abuso de poder
político e econômico pela chapa Dilma Rousseff-Michel Temer nas eleições de
2014. Naquele ano, além da então presidente, 1.626 pessoas conseguiram votos
para ocupar os cargos em disputa.
No
caso da Odebrecht, o empreiteiro pontuou que, dos recursos disponíveis para
campanhas, 75% eram pagos fora do sistema oficial.
“Caixa
2, para a gente, e eu acho que para todas as empresas, era visto como natural.
Os valores definidos pelos candidatos eram tão aquém do que eles iam gastar que
não tinha como a maior parte das doações não ser caixa 2. Era impossível”,
declarou ao TSE.
O
empreiteiro afirmou que, ao acertar propinas com parlamentares ou ocupantes de
cargos executivos, o valor podia ser pago nas eleições tanto como doação
oficial, o “caixa 1”, quanto por fora. Mas ponderou também que parte dos
valores do chamado caixa 2 não foi destinada a campanhas com uma “contrapartida
específica”.
Doação
oficial
Marcelo
Odebrecht disse que a doação oficial, como acaba por vincular a empresa ao
candidato eleito, foi “criminalizada no Brasil”. E que, ao longo de “20, 30
anos”, o dinheiro não contabilizado para campanhas foi crescendo, o que ele, há
quase dois anos preso pela Lava Jato, diz que “precisa mudar”. “A gente tinha
medo de doar com medo da penalização que havia”, sustentou.
O
empreiteiro ressaltou que os empresários têm a preocupação de não mostrar tudo
o que gastam nas campanhas para evitar que alguns concorrentes, vendo eventuais
disparidades nas contribuições, cobrem mais.
Arrependimento
Num
dos trechos do depoimento, Odebrecht afirmou que se arrepende de ter tratado de
propina no governo federal. Falando de forma geral, considerou que não só ele,
mas toda a sociedade, errou ao assistir, supostamente de forma passiva, o
esquema de aparelhamento político no setor público, potencial fonte de desvios
e do financiamento ilegal de campanhas.
“O
governo sabia, a população sabia, eu sabia que o meu empresário, para atuar na
Petrobrás, de alguma maneira, tinha de atender aos interesses políticos daquela
diretoria. Eu fazia vista grossa, a sociedade fazia vista grossa, todo mundo
fazia vista grossa”, disse. “Olhando para a frente, precisa mudar muita coisa,
entendeu? Essa questão da Lava Jato foi positiva, porque acho que vai corrigir
daqui para a frente.” (AE)
Segunda-feira,
27 de Março de 2017 ás 11hs30
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