O
programa nacional do PMDB traz críticas indiretas ao PT e nenhuma fala do
presidente da República, Michel Temer. As investigações sobre corrupção em
curso no Brasil também passam ao largo da propaganda. O programa partidário
será exibido nesta quinta-feira no rádio e na TV, às vésperas de o Tribunal
Superior Eleitoral dar início ao julgamento que pode cassar o mandato de Temer
– caso a chapa com a ex-presidente Dilma Rousseff seja condenada por abuso de
poder econômico, em decorrência de doações irregulares de empreiteiras,
descobertas na Operação Lava-Jato.
Temer
aparece apenas em tomadas internas gravadas no ambiente controlado da
Presidência, no início e no fim do programa, sem nunca encarar a câmera.
Ambientando no Palácio do Planalto, o programa abusa de tons de claros, explora
a claridade e movimentos de câmera, com imagens captadas por um drone. Daí vem
a primeira indireta ao governo petista. “O Palácio do Planalto não foi
concebido para os que querem nele se entrincheirar e se manter, a qualquer
custo, no poder. Não. O palácio não é endereço fixo de ninguém”, afirma a
apresentadora do partido. Em seus últimos dias no palácio, Dilma deu palanque
oficial para manifestações de militantes encobertas de cerimônias – em uma
delas petistas e aliados de movimentos sociais decidiram ocupar o salão
principal, pendurando bandeiras e cartazes nas janelas.
Segundo
o publicitário Elsinho Mouco, diretor do programa, Temer optou por não gravar
porque os depoimentos falam do trabalho dele. Desde a mobilização favorável ao
impeachment, as aparições de políticos no horário da propaganda partidária
têm sido marcadas por panelaços e manifestações de repúdio. Ao evitar o contato
direto com a câmera, Temer, que admite a própria impopularidade, pode vir a
evitar esse constrangimento.
As
medidas do governo Temer são anunciadas em tom de comemoração por
parlamentares do PMDB que se revezam no plano – todas mulheres, a fim de
vacinar o governo contra a crítica da ausência delas no primeiro escalão
ministerial e depois da controversa fala do presidente sobre a participação
feminina na economia, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Um
dos principais temas é a Reforma da Previdência, que desafia a base do governo,
apontada “não como uma imposição”, mas como uma “necessidade”. Também são
citados o ajuste fiscal, a concessão de aeroportos e a liberação para saque do
FGTS. Na economia, outra contraposição à era PT. A mudança de perfil no BNDES,
comandado por Maria Silvia Bastos Marques, para dar prioridade a investimentos
“dentro do país” e a ceder financiamentos a pequenas e médias empresas.
O
programa exibe os senadores Eunício Oliveira (CE), presidente do Senado, e
Romero Jucá (RR), líder do governo, ambos envolvidos na Operação Lava-Jato e
citados na delação da Odebrecht, prestes a vir a público no Supremo Tribunal
Federal. O combate à corrupção, aliás, ficou de fora do filme. Outra
parlamentar que aparece é a deputada Soraya Santos (RJ), suspeita de ajudar o
ex-deputado Eduardo Cunha (RJ) a pressionar empresários com requerimentos
encomendados na Câmara.
O
mote explorado pelo PMDB é “o presidente certo, na hora certa”. O marqueteiro
avalia que o governo “não tem mais que se justificar, não precisa mais explicar
como e a que veio”. “Este homem está definitivamente sentado à cadeira de
Presidente da República, para o bem do país. Não há nada que o assombre”, diz
Mouco. Apesar do otimismo, a agenda do Judiciário, sobretudo do TSE e do STF,
mostra que não é bem assim. (VEJA)
Quinta-feira,
30 de Março de 2017 ás 11hs00
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