Após
a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, marcar para 31
de maio o julgamento de ação penal que contesta o foro privilegiado, o ministro
Marco Aurélio Mello afirmou ontem que o Congresso deveria disciplinar o alcance
do número de autoridades beneficiadas com a prerrogativa. Em Lisboa, o ministro
Gilmar Mendes disse que o momento não é “oportuno” para decidir sobre o tema.
A
discussão veio à tona em razão do impacto que o julgamento pode ter sobre o
andamento da Lava Jato no Supremo. No dia 11 deste mês, o jornal O Estado de S.
Paulo revelou que o ministro Edson Fachin, relator dos processos da operação na
Corte, instaurou 76 inquéritos para investigar políticos com foro privilegiado
citados nas delações premiadas da Odebrecht.
Contrário
ao foro privilegiado, Marco Aurélio disse desconhecer a proposta de seu colega
Luís Roberto Barroso, que defende a restrição de foro no STF para políticos que
tenham cometido crimes apenas durante o exercício do mandato.
“Vamos
ver: se a proposição decorrer de simples interpretação do que já está na
Constituição, nós poderemos atuar. Agora, não atuamos como legisladores
positivos”, disse Marco Aurélio, ao chegar ao STF para a sessão plenária de
ontem.
“O
ideal seria realmente a disciplina da matéria pelo Congresso. Eu sou contrário
à prerrogativa de foro por razões democráticas” afirmou o ministro. Segundo um
integrante da Corte, ainda não há maioria para que o Supremo resolva dar um
novo entendimento à extensão da prerrogativa.
‘Casuísmo’
Em
Portugal, onde participou de evento da área jurídica, Gilmar criticou ontem o
debate sobre foro privilegiado. “Não sei se é oportuno tentar fazer uma mudança
casuística, diria quase macunaímica agora, aproveitando-se de que este discurso
de que o foro é inadequado”, considerou.
Gilmar,
porém, afirmou que o STF não corre “nenhum risco” de paralisia por causa do
andamento da Lava Jato. Segundo ele, quando a Constituição foi elaborada, seus
autores não imaginavam que haveria tanta investigação e práticas criminais em
um ambiente político.
“Hoje,
temos metade do Congresso, talvez algo mais, investigada no STF, então esse é
um dado estatístico inescapável, não há o que discutir”, afirmou.
Em
relação à celeridade dos julgamentos do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava
Jato em primeira instância, Gilmar afirmou que a 13.ª Vara Federal Criminal de
Curitiba trabalha em “condições especialíssimas” e disse que a comparação é
“absolutamente imprópria”. “Ele só faz isso”, afirmou.
Questionado
se a declaração se tratava de um elogio ou crítica a Moro, ele respondeu que
não se referia ao juiz, mas às condições dadas pelo Tribunal Regional Federal
(TRF). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (AE)
Sexta-feira, 21 de abril de 2017
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