Após
usar recursos públicos do Fundo Partidário para bancar viagens de jatinho,
regar jantares a vinho e arcar até com despesas pessoais de dirigentes, as
legendas agora pressionam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para pagar,
também com dinheiro público, eventuais multas decorrentes de gastos
questionados pela corte. Os partidos alegam falta de caixa para justificar a
destinação do fundo para saldar possíveis penalidades por despesas não
comprovadas.
As
legendas argumentam que os recursos minguaram após o Supremo Tribunal Federal
(STF) declarar inconstitucionais as doações de empresas para campanhas.
"Não foram os partidos que mudaram a regra, mas o STF. Logo, a regra para
multas precisa mudar também. Se não temos recursos próprios, vamos pagar como?
Não somos empresa, não temos receita própria. O fundo é a receita da
democracia", disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), integrante da
Executiva Nacional do PMDB.
Pareceres
dos técnicos do TSE sobre as contas partidárias de 2011, que serão julgadas até
o dia 28 deste mês, pedem que as siglas devolvam R$ 35,6 milhões à União,
gastos de forma não comprovada - se as contas forem julgadas irregulares, além
de devolver o dinheiro, aplicam-se multas. "Estabeleceu-se um impasse. Se
as multas forem pesadas, elas serão impagáveis. Esse questionamento será feito
pelo conjunto dos partidos", afirmou o senador José Agripino (RN),
presidente do DEM.
Conforme
o jornal O Estado de S. Paulo revelou no dia 12 do mês passado, em razão das
irregularidades nessas despesas, apenas três - PSD, PV e PRB - dos 29 partidos
em funcionamento há seis anos receberam pareceres pela aprovação de suas
contas. Até a data do julgamento, as legendas podem evitar as multas, caso
apresentem documentos para comprovar os gastos.
Dirigentes
e parlamentares, porém, já expuseram o problema em conversas informais com o
presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, e pretendem em conjunto apresentar
uma consulta ao tribunal. "Acredito que ele (Gilmar) buscará com
sensibilidade entender o momento", disse o deputado Alex Manente (SP),
integrante da direção nacional do PPS. "O partido não pode mais arrecadar
pelo sistema antigo, que era por doações de empresas. E, pela crise econômica,
temos muita dificuldade para poder ter filiados fazendo doações, mesmo que
pequenas."
Pressão
A
pressão sobre o TSE ocorre após a Câmara dos Deputados ter engavetado projeto
que proíbe a corte de punir partidos em virtude de contas rejeitadas e no
momento em que o relator da reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP),
tenta criar um fundo de R$ 2,2 bilhões para bancar as campanhas eleitorais.
Entre
2011 e 2016, as siglas receberam R$ 3,57 bilhões em recursos públicos. O uso do
dinheiro é uma caixa-preta, uma vez que a fiscalização é feita de forma lenta
pelo TSE.
O
presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, defendeu que o TSE não seja mais
o responsável por julgar as contas. "Temos de levar as contas dos partidos
ao Tribunal de Contas da União. A Justiça Eleitoral é muito politizada. O TSE
joga para a opinião pública e cria problema com tudo só para mostrar sua
importância", afirmou.
A
expectativa é de que os próximos julgamentos sejam mais rápidos porque o TSE
vai digitalizar as prestações de contas. Isso preocupa os partidos, que temem
que os pagamentos de multas drenem recursos para financiar campanhas em 2018.
Segundo o vice-governador de São Paulo, Márcio França, responsável pelas
finanças do PSB, poucos partidos, como PCdoB, PT e PSB, exigem uma contribuição
via desconto em folha de seus parlamentares e filiados. "Em anos sem
eleição, o único recurso disponível é do Fundo Partidário", disse.
Contraponto
A
ideia de usar o fundo para pagar multa, porém, não é unânime. O presidente do
PHS, Eduardo Machado, considerou a proposta "uma afronta à
legislação". "Já vi vários julgados serem radicalmente contra uma
multa por malversação do Fundo Partidário ser paga usando o Fundo Partidário.
Sou contra."
Machado
disse que vai incentivar filiados a fazer doações para quitar multa de R$ 200
mil. "Isso é possível no nosso caso, que é pequeno. Agora, como os
partidos grandes vão fazer para pagar multas de milhões de reais eu também
estou curioso para saber", afirmou Machado.
As
contas de 2011 precisam ser julgadas até o fim deste mês para evitar a
prescrição. O procedimento de cobrança segue o roteiro de dívidas judiciais e
os débitos são executados pela Advocacia-Geral da União (AGU). Os partidos
podem até ter os bens bloqueados. As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo. (AE)
Segunda-feira,
10 de Abril de 2017 ás 10hs45
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