Dilma Rousseff era uma presidente
da República que não confiava em ninguém e achava todo mundo “burro”, disse em
depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) a empresária Mônica Moura. A
delação premiada de Mônica revela detalhes da convivência da petista com a
empresária e seu marido, o marqueteiro João Santana – o casal foi responsável
pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.
“A Dilma não confia em ninguém e
tem um problema grave: ela não confia na capacidade de ninguém. Ela acha que
todo mundo é burro, é incapaz”, disse Mônica aos procuradores.
“Ela se cercava de um monte de
gente – não quero ser grosseira – , mas de gente sem capacidade, porque é
aquele tipo de pessoa que não confia nas pessoas: não se cerca de gente
brilhante, porque tem medo de ser ofuscada, entendeu?”, completou.
A relação de Dilma com João
Santana era diferente, frisou Mônica, já que a petista tinha confiança na
capacidade do marqueteiro de “pensar”. Além de dar conselhos à então presidente,
João elaborava discursos em rede nacional de rádio e televisão – um palanque
eletrônico usado com frequência para anunciar medidas de impacto – e batizava
programas do governo petista. “Ela recorria a ele sempre”, afirmou Mônica.
Segundo a empresária, o casal não
cobrava pelo trabalho nos pronunciamentos, apenas repassando para a Secretaria
de Comunicação Social da Presidência da República os custos de produção com a
equipe, luz e câmera. A logomarca criada por João Santana ao governo Dilma foi
um “presente”.
Sobre a primeira campanha de
Dilma à Presidência, em 2010, a empresária reconheceu que foi uma eleição
“dificílima”, já que todo mundo apostava na derrota da petista. “Era
impossível, um poste realmente pra eleger”, admitiu.
De acordo com a delatora, João
Santana era tão influente no governo que Mangabeira Unger, na época ministro da
Secretaria de Assuntos Estratégicos, recorria ao marqueteiro para conseguir uma
agenda com Dilma Rousseff durante o segundo mandato.
‘Pátria educadora’. Na época,
Mangabeira estava cuidando do programa “Pátria Educadora”, mote da segunda
gestão de Dilma, e se envolveu nos bastidores numa disputa de protagonismo
político com o Planalto e o então ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro.
“O Mangabeira chegava ao ponto de
pedir ao João que conseguisse que a Dilma recebesse ele. E a Dilma, ‘Eca’, ‘Ai
que saco’, ‘Ele é chato, eu não quero’, ‘Eu não guento'”, relatou a delatora.
Os problemas de Mangabeira se
agravaram quando ele decidiu incluir no programa uma proposta de diretrizes
curriculares para a Base Nacional Comum da Educação, que define o que se espera
que alunos aprendam em cada etapa da educação básica. “Autoritário” e
“megalomaníaco” foram alguns dos adjetivos usados pela cúpula palaciana para
descrever a atuação de Mangabeira à frente da pasta.
Isolado do governo, Mangabeira
acabou entregando a sua carta de demissão em setembro de 2015. Procurada pela
reportagem, a assessoria de Dilma disse que não se pronunciaria. (AE)
Segunda-feira, 15 de Maio, 2017
as 10hs30
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