Matérias
que passaram pela Casa ampliam os direitos das mulheres e buscam combater a
violência contra elas; "pornô de vingança" é uma das três pautas
A
aproximação do Dia Internacional das Mulheres, celebrado nesta quinta-feira (8/03),
impulsionou, no Senado Federal, a votação de projetos da chamada 'pauta
feminina' – que inclui aqueles projetos que afetam diretamente as mulheres
brasileiras e que buscam ampliar seus direitos, além de combater com verocidade
a violência contra elas.
Cumprindo
esse esforço, três matérias relacionadas às mulheres foram aprovadas no Senado
na quarta-feira (7/03). Duas delas já haviam sido apreciadas pelos deputados e
seguem agora para a sanção presidencial de Michel Temer. A terceira matéria da
' pauta feminina ', no entanto, ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos
Deputados para que vire lei.
Maria
da Penha
Entre
os que estão prontos para virar lei, está o projeto que torna crime o descumprimento
de medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha . Ou seja, a partir da
sanção de Temer, homens que violarem a proibição judicial de se aproximar das
mulheres nos casos de violência doméstica e familiar serão punidos
judicialmente, o que não ocorre hoje.
Ao
defender esse projeto de lei, a relatora, senadora Vanessa Graziotin
(PCdoB-AM), afirmou que, hoje em dia, não há punição para esse homens. Se
aprovada pelo presidente, a norma vai prever pena de três meses a dois anos
para o crime.
Para
a senadora, penalidades mais duras podem contribuir para reduzir a ocorrência
de tais problemas no Brasil. "Lamentavelmente, não são poucos os
agressores que descumprem medidas protetivas, voltam a agredir as suas
companheiras, e nenhuma penalidade maior sofrem por parte da legislação
brasileira", afirmou Vanessa.
A
segunda matéria que já passou pela Câmara e que agora só depende da assinatura
do presidente é a que obriga a Polícia Federal a investigar conteúdos misóginos
(que expressam repulsa ou aversão às mulheres) publicados na internet.
Esse
projeto de lei foi proposto pela deputada Luizianne Lins (PT-CE) e inclui, na
legislação de crimes interestaduais ou internacionais, a prerrogativa da PF
para apurar infrações relacionadas ao tema.
Ao
propor o projeto, a deputada petista argumentou que as polícias estaduais não
têm condições materiais para coibir e investigar crimes cometidos na internet –
os chamados cybercrimes.
"Acreditamos,
sinceramente, que essa alteração legislativa contribuirá para que não surjam
mais casos como o ocorrido com a doutora Lola Aronovich, professora
universitária e feminista blogueira, que teve o sítio eletrônico de seu blog
clonado em passado recente", escreveu.
"No
lugar de mensagens em defesa dos direitos da mulher, os criminosos criaram
páginas falsas e estamparam postagens preconceituosas, misóginas e
misândricas", lembrou. "Como conseqüência dos ataques cibernéticos,
Lola Aronovich foi perseguida, física e virtualmente, sem que a polícia local
conseguisse, efetivamente, encontrar os responsáveis por esses atos",
expôs a deputada, ao justificar a sua proposição.
Presente
no plenário no momento da votação, a senadora Rose de Freitas (MDB-ES) afirmou
que as punições propostas pelo projeto de lei e a atribuição que está sendo
dada à Polícia Federal têm importância muito grande.
"Estou
chamando a atenção de todos da Casa para saberem que nós estamos tentando
avançar na legislação brasileira quanto a esse crime de misoginia, que ocorre
com as mulheres todo dia e que atenta contra tudo, o respeito e tudo
mais", afirmou.
Pornô
de vingança
O
terceiro projeto de lei aprovado no Senado Federal nesta quarta-feira – mas que
ainda não está pronto para ser sancionado pelo presidente, pois precisa passar
pelo crivo da Câmara dos deputados – é o que busca combater a exposição pública
da intimidade sexual das mulheres. Ou seja, aquele projeto que criminaliza o
chamado 'pornô de vingança'.
Esse
projeto foi relatado por outra senadora, a também petista Gleisi Hoffmann
(PT-PR). No texto que passou no Senado, é proposto que se torne crime a
divulgação de cenas da intimidade sexual e a vingança por meios pornográficos.
O
projeto de lei foi aprovado de modo simbólico pela unanimidade dos presentes na
sessão, assim como a medida que trata do descumprimento de medidas protetivas.
O objetivo da proposta é reconhecer que a violação da intimidade da mulher
consiste em uma das formas de violência doméstica e familiar.
Segundo
a matéria proposta por Gleisi, estão sujeitas à reclusão de dois a quatro anos
as pessoas que oferecerem, trocarem, distribuírem ou que exibirem – por
qualquer meio audiovisual – conteúdos com cena de nudez ou ato sexual de
caráter íntimo sem a autorização dos participantes.
O
importante é tocar que não é apenas a pessoa envolvida com a mulher em questão
que será punida, mas toda a rede de contatos que receber o conteúdo e
compartilhar com amigos. Com isso, os famosos grupos de mensagens instantâneas
que são criados exclusivamente para esse tipo de compartilhamento de conteúdo
passam a ser palco de crimes.
"A
principal vítima da 'vingança pornográfica' é a mulher, e os responsáveis por
esse tipo de conduta, na maioria das vezes, são os ex-cônjuges, ex-parceiros e
até ex-namorados das vítimas", disse Gleisi, ao relatar o projeto.
Esse
projeto também estipula penas para o registro não autorizado da intimidade
sexual das mulheres . Afinal, de acordo com Gleisi, a violência "absurda e
covarde" cometida por ex-companheiros gera consequências para as mulheres
como a perda de emprego e das relações sociais.
A
matéria é originária da Câmara, mas, como foi alterada durante a tramitação no
Senado, segue novamente para análise dos deputados.
A
aprovação dos projetos escolhidos pela bancada feminina foi possível nesta
quarta-feira devido a um acordo entre os parlamentares para que houvesse
celeridade na tramitação.
No
início da manhã, os senadores promoveram uma sessão solene pelo Dia
Internacional da Mulher. A homenagem à figura da mulher, que ocorre todos os
anos, entregou dessa vez o diploma às 26 deputadas presentes à Assembleia
Nacional Constituinte de 1987 e 1988.
A
maior homenagem, porém, foi a aprovação das medidas da 'pauta feminina', o que
representa uma atenção especial da Casa aos problemas pelos quais as mulheres
são obrigadas a passar.
*
Com informações e reportagem da Agência Brasil.
Sexta-feira,
09 de março, 2018 ás 00hs05
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