A
Páscoa nunca será tão doce para um condenado à cadeia por corrupção. Ao adiar a
discussão do mérito do pedido de habeas corpus do petista para o dia 4 de abril
e, na sequência, conceder uma liminar pelo placar de seis a cinco para impedir
o cumprimento da ordem de prisão pelo TRF-4, a corte dobrou a espinha para a
defesa do petista. Se, na próxima sessão, o STF consagrar de vez a impunidade,
durante a votação do mérito do HC, não haverá mais como descer na escala da
desmoralização institucional. De qualquer forma, pelo que se viu na última
semana, o plenário do Supremo representa hoje a maior distância entre o cometimento
do crime e o cumprimento da Justiça. Pergunta-se: e os milhares de condenados
presos, no País, à espera de um HC? Também terão liminar para aguardar nos
recessos de seus respectivos lares a ordem de prisão? Definitivamente, o que
aconteceu na noite dos horrores do Supremo não foi o sacrossanto respeito ao
Estado de Direito, mas a rendição a um Estado de Arbítrio.
Difícil
acreditar que o teatro encenado no STF não estava combinado entre os ministros
pró-Lula. A demora dos ministros em discutir o cabimento do HC e em voltar do
intervalo, inicialmente previsto para “10 minutos”, mas que durou meio tempo de
uma partida de futebol, somada à viagem inadiável de Marco Aurélio Mello, logo
ele que guerreou tanto nos bastidores e exerceu marcação cerrada sobre a
presidente Cármen Lúcia para que aquela sessão acontecesse, compôs o espetáculo
farsesco. A pantomima foi armada no convescote da vergonha. Ao fim, restou
cristalino que o STF escancarou o que antes eram apenas brechas jurídicas para
evitar a prisão de Lula. O tribunal manipulou a Carta Magna como quis. Como
disse o ministro Luís Roberto Barroso, na sabatina de ministro do Supremo em
2013, na Constituição cabe tudo, quando prevalece o obscurantismo, as
conveniências de ocasião, os chamados embargos auriculares, a relação promíscua
com os políticos e a jurisprudência de carta-marcada. “Só não traz a pessoa
amada em três dias”, dizia Barroso. Olha que, dependendo do freguês, até trás.
Ao menos esse foi o recado mais eloqüente transmitido pelos ministros na sessão
da quinta-feira 22.
Se
algum consenso havia entre os partidários do ex-presidente Lula e aqueles
contrários a ele era grave e urgente. A urgência, inclusive, era o argumento
principal do habeas corpus impetrado pela defesa de Lula, comandada pelo
ex-ministro do Supremo Sepúlveda Pertence. Ainda que aguardem julgamento no
STF, além do de Lula, outros 54 pedidos de habeas corpus. Em algumas horas,
porém, como se fossem vampiros ao contrário, temerosos da ausência de luz, tão
logo o sol de pôs alterou-se nos 11 ministros do Supremo todo sentido de
urgência. O que antes era motivo de pressão sobre a presidente do STF, Cármen
Lúcia, e de bate-bocas constrangedores de ministros como Gilmar Mendes e Luís
Roberto Barroso tornou-se adiável e compromissos triviais e quase pueris se
tornaram prioridade. Continue lendo (Link)
Por:
Rudolfo Lago, Tábata Viapiana e Ary Filgueira
Domingo,
25 de março, 2018 ás 00:05
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