Seis
em cada 10 brasileiros (58%) admitem que nunca, ou somente às vezes, dedicam
tempo a atividades de controle da vida financeira, e 17% dos consumidores,
sempre ou frequentemente, precisam usar cartão de crédito, cheque especial ou
até mesmo pedir dinheiro emprestado para conseguir pagar as contas do mês. O
percentual aumenta para 24% entre os mais jovens. Há, também, aqueles que
precisam recorrer ao crédito para complementar a renda.
Os
dados, obtidos em pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC
Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as
capitais, mostram que a organização financeira não é uma tarefa que atrai os
consumidores.
Para
o educador financeiro José Vignoli, do portal Meu Bolso Feliz, uma vida
financeira saudável depende do esforço de cada consumidor em buscar informação
e exercitar a disciplina para incorporá-la no seu cotidiano.
“Muitas
pessoas poderiam, facilmente, ter acesso às informações necessárias para ter um
orçamento mais equilibrado, mas não parecem conseguir. Elas pensam que dá
trabalho, ou que é muito difícil manter o controle sobre as despesas, e se
esquecem de que trabalhoso mesmo é encarar o endividamento e a restrição ao
crédito. Lidar com o dinheiro exige disciplina e comprometimento para viver
dentro da sua realidade financeira e não tomar decisões equivocadas”, afirmou
Vignoli.
O
mestrando Murilo Gouveia disse que espera mudar seus hábitos financeiros em
breve. “Eu já fiz planilhas anos atrás, mas hoje não faço mais porque os gastos
variam, e ganho muito mal, mas agora vou trocar de emprego e quero me
organizar.”
Equilíbrio
Uma
prova de que a vida financeira equilibrada traz mais satisfação e tranquilidade
é que 56% dos consumidores ouvidos no levantamento disseram que se sentem
melhor quando planejam as despesas para os próximos seis meses. O problema,
novamente, é que nem sempre isso acontece na prática, porque 48% deles nunca ou
somente às vezes fazem um planejamento cuidadoso dos passos a seguir para ficar
dentro do orçamento nos meses seguintes. O problema surge com mais força entre
os consumidores de baixa renda (classes C, D e E), com 51% de citações.
A
executiva de vendas Marta Ferreira afirmou que já perdeu o controle das contas
e que hoje tenta ser mais organizada. “Dedico meu tempo sempre para fazer
minhas contas quando recebo, uso uma caderneta e faço minhas anotações. Antes,
confesso que não fazia, mas depois que fui perdendo o controle do que pagava
resolvi anotar meus gastos. ”
Planejar-se
para realizar um sonho de consumo também não é um hábito comum para a maioria
dos consumidores. Os que estabelecem metas e as seguem à risca, quando querem adquirir
um bem de mais alto valor, como uma casa, um automóvel ou realizar uma viagem,
por exemplo, somam 48% da amostra.
Nesse
caso, o comportamento é mais frequente entre as pessoas das classes A e B, com
59% de menções. Os que nunca ou somente às vezes fazem esse tipo de esforço
somam outros 48% dos entrevistados. Há ainda 38% que nem sempre têm planos.
A
contabilista Iana Leite, que se definiu como "bem controlada nas
finanças", só neste ano começou a juntar dinheiro para investir em um
imóvel. “Este ano comecei a transferir todo mês um dinheiro fixo para uma
poupança. Assim que tiver um valor, vou comprar um apartamento ou uma casa.”
Matemática
Os
consumidores ouvidos no levantamento afirmaram que ter algum tipo de
familiaridade com matemática e conhecimento sobre números torna mais fácil
exercer controle sobre a vida financeira. Em cada 10 brasileiros, seis (61%)
consideram que informações numéricas são úteis na vida financeira diária e 62%
dizem que aprender a interpretar números é importante para tomar boas decisões
financeiras. Porém, nem sempre essas pessoas procuram, de fato, informar-se a
respeito desses temas.
A
pesquisa detectou que 19% dos entrevistados não costumam prestar atenção em
assuntos que envolvem números, percentual que aumenta para 24% entre os homens
e 27% entre os mais jovens. Há ainda 39% que nunca ou somente às vezes calculam
o quanto pagam de juros ao parcelar uma compra e 53% que fazem esse cálculo com
frequência. Quando parcelam alguma compra, um terço (33%) dos entrevistados nem
sempre sabem se já têm outras prestações para pagar.
“O
conhecimento sobre juros é essencial para as finanças de quem parcela compras
ou contrata algum financiamento. Os juros encarecem o valor total a ser pago
pelo consumidor, principalmente em casos de atrasos, e se não são bem
analisados e pesquisados em várias instituições, podem comprometer a
organização do consumidor”, ressaltou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela
Kawauti.
A
busca de informações com especialistas também não é hábito de boa parte dos
brasileiros. Apenas três em cada 10 (31%) disseram que sempre, ou
frequentemente, procuram dicas de especialistas sobre gestão financeira. Além
disso, somente 17% costumam participar de cursos, palestras e seminários para
aprender a administrar o próprio orçamento; e 49% nunca participam dessas
atividades, ao passo que 25% dizem que, às vezes, procuram esse tipo de
informação.
“Hoje
com a facilidade de acesso à internet, esse número poderia ser muito maior. Há
uma grande oferta de conteúdo de qualidade, e gratuito em portais, vídeos e até
mesmo nas redes sociais, que tratam da relação com o dinheiro de forma leve,
descomplicada e aplicada às situações comuns do dia a dia”, destacou Vignoli.
Mesmo
com as novas tecnologias, a professora Aline Ferraz controla as contas no papel
mesmo. “Eu dedico um tempo para me organizar e uso agenda. Sou meio antiquada,
anoto o que eu gasto e confronto para saber o que sobra. ”
Já
a empregada doméstica Eliane Neres disse que faz um controle mental das despesas
e depois anota tudo. “Quando recebo o salário, anoto tudo o que já foi pago no
lápis, e também não gasto mais do que ganho. ”
Consumo por impulso
Parte
expressiva dos entrevistados revelou que compra por impulso e toma atitudes de
consumo desregradas. Quando estão fazendo compras, um terço (33%) dos
brasileiros nunca, ou apenas às vezes, avalia se realmente precisa do produto,
para não se arrepender depois. Além disso, 45% nunca, ou somente às vezes,
conseguem resistir às promoções e comprar apenas aquilo que está planejado.
A
analista de qualidade Mayara Ruda Silveira disse que é bem controlada e
raramente cede às tentações. “Adoro fazer planilhas. Geralmente eu planejo os
gastos antes, sou bem controlada. Uma coisa ou outra acabo comprando por impulso.”
A
pesquisa mostra também que os consumidores adotam posturas desaconselháveis do
ponto de vista financeiro. Por exemplo, 19% dos entrevistados consideram mais
importante gastar dinheiro hoje do que guardar para o futuro, embora 77%
reconheçam que, às vezes, ou nunca, se comportam assim.
Sobre
pensar no futuro, a pesquisa detectou que muitos não se sentem preparados para
investir. Somente 38% disseram que confiam na própria capacidade de identificar
bons investimentos e 22% que desconhecem os tipos de aplicações com melhor taxa
de retorno. Apenas metade (51%) da amostra sabe sempre, ou com frequência, o
quanto precisa guardar todos os meses.
“Certas
modalidades podem render muito mais, mas também estão sujeitas a variações e
perdas mais significativas. Adequar o tipo de investimento à personalidade e à
situação financeira de quem vai investir é essencial. Perfis mais avessos ao
risco pedem modalidades mais conservadoras, enquanto consumidores mais ousados
podem optar por investimentos mais voláteis e com maior possibilidade de
retorno”, explicou a economista Marcela Kawauti. (ABr)
Quinta-feira,
29 de março, 2018 ás 00:05
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