O
engenheiro Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, divulgou nesta
sexta (11/5) carta que enviou ao ministro das Relações Exteriores, Aloysio
Nunes, sobre o memorando da CIA (serviço de inteligência dos Estados Unidos)
que revela novos fatos envolvendo o Estado na morte de seus opositores durante
a ditadura militar, sob a presidência do general Ernesto Geisel (1974-1979).
Na
carta, Ivo Herzog pede que o governo brasileiro solicite ao governo
norte-americano a liberação completa dos registros feitos pela CIA. “A família
Herzog vem a Vossa Senhoria solicitar manifestação do Ministério das Relações
Exteriores solicitando ao governo norte-americano a liberação completa dos
registros realizados pela Agência Central de Inteligência (CIA) que documentam
a participação de agentes do Estado brasileiro em operações para torturarem ou
assassinarem cidadãos brasileiros”, diz o texto.
Diretor
do telejornal Hora da Notícia, veiculado pela TV Cultura de São Paulo, Vladimir
Herzog foi morto em outubro de 1975 sob tortura pelos militares após ser detido
nas dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI/CODI). Ele deixou a esposa Clarice e os dois
filhos, Ivo e André, na época com 9 e 7 anos, respectivamente.
Na
época, a morte foi divulgada pelo Exército como suicídio com a utilização de
uma foto forjada. Em 2013, como parte dos trabalhos da Comissão Nacional da
Verdade (CNV), a família conseguiu a retificação do atestado de óbito no qual
consta que a morte do jornalista se deu em função de “lesões e maus tratos
sofridos durante os interrogatórios em dependência do 2º Exército (DOI-CODI)”.
Ivo
Herzog finaliza a carta lembrando que Aloysio Nunes, assim como a família
Herzog, sabe o que foi “o terror e a violência” promovidos pela ditadura
brasileira. “Uma nação precisa conhecer sua história oficialmente para ter
políticas públicas que previnam que os erros do passado se repitam”, conclui.
Procurado
pela reportagem, o Itamaraty respondeu que ainda não tem um posicionamento
oficial sobre a carta enviada.
Depois,
em nota, o Itamaraty confirmou que recebeu a carta, datada de 11 de maio, e
"examina o encaminhamento da solicitação nela contida".
Documento confidencial
O
memorando revela que Geisel autorizou o Centro de Inteligência do Exército
(CIE) a continuar a política de execuções sumárias contra opositores da
ditadura militar no Brasil adotadas durante o governo de Emílio Garrastazu
Médici (1969-1974).
O
documento, agora tornado público pelo Departamento de Estado dos EUA, data de
11 de abril de 1974 e é assinado pelo então diretor da CIA Willian Colby e
endereçado ao secretário de Estado dos EUA na época, Henry Kissinger. Nele,
Colby detalha que Geisel, ao assumir o poder, foi informado de que 104 pessoas
haviam sido mortas no ano anterior.
Na
ocasião, o Centro de Informações do Exército recebeu autorização de Geisel para
manter o método, mas restringido aos "casos excepcionais", que
envolvessem "subversivos perigosos". Além do aval do Palácio do
Planalto, as execuções também deveriam ser precedidas de consulta ao então
diretor do Serviço Nacional de Informações (SNI), general João Baptista
Figueiredo, sucessor de Geisel na Presidência da República, entre 1979-1985.
(ABr)
Sábado,
12 de maio, 2018 ás 18:00
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